colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Cadê os chefões e os politicos que os acoitam?

31/08/2025 - 08:30
Atualização: 31/08/2025 - 08:36
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O recente anúncio de uma operação de combate ao crime organizado, longe de ser um atestado de vitória, configura-se como a comprovação dos sintomas graves de um sistema político-institucional e de segurança corroído em suas entranhas. A dimensão dos presos e dos ativos apreendidos, embora notável, não passa da ponta ínfima de um gigante iceberg corrompido que se formou nas sombras do poder público.

A verdadeira batalha não acontece nas ruas ou na Faria Lima, mas nos salões felpudos do poder onde os verdadeiros donos do tráfico (que todos sabem quem são) convivem alegre e criminosamente com autoridades e políticos de todos os naipes.

Enquanto isso, a sociedade, sempre iludida por falsas mensagens tranquilizadoras de segurança, celebra o efêmero, enquanto a raiz do problema persiste, silenciosa. Inatingível. Essa ilusão de controle serve apenas para mimetizar a verdadeira natureza da ameaça por trás das declarações despreocupadas e sossegadoras de autoridades, muitas delas comprometidas com o crime até o ultimo fio de cabelo.

A disputa entre as próprias instituições pela paternidade da operação é a prova da ausência de uma política nacional de segurança digna do nome. Polícias, Ministérios Públicos e agências de inteligência priorizam o crédito público e a visibilidade na mídia em detrimento da eficiência, comprometendo o fluxo de informações e a sinergia entre equipes. E isso vem acontecendo desde sempre...

Essa fragilidade institucional é um presente para o crime, que a explora com maestria. A falta de coordenação, em si, é uma brecha estratégica. Essa situação reforça a urgência de uma agência antimáfia unificada, imune a vaidades e com poder real para investigar o crime organizado de forma transversal. Tal órgão atuaria de forma coesa, cruzando dados de inteligência de todas as forças de segurança para um combate contínuo e eficaz, sem as ineficiências causadas pelas rivalidades. A lógica é simples: o crime trabalha em rede, e o Estado precisa combatê-lo da mesma forma, mas a política dos holofotes das instituições ligadas ao tem, impede a ação coordenada.

O que essa operação mal arranhou é a verdadeira extensão do problema: a contaminação sistêmica do país, de norte a sul, de leste a oeste. O crime organizado não opera no vácuo; ele se instala e comanda prefeituras, câmaras de vereadores, e se alastra por assembleias legislativas, Congresso Nacional , Órgãos de justiça e dos executivos estaduais e federal. E mais recentemente avança sobre o setor privado.

A prova irrefutável dessa infiltração reside no fato de que a operação foi vazada, permitindo que os "peixes graúdos" e os políticos que os acoitam escapassem e pior, ainda, ficassem de fora do seu alcance. Esse vazamento, longe de ser um incidente isolado, é a demonstração de que a corrupção chegou a níveis de poder inquestionáveis, comprometendo o próprio Estado em seu dever de proteger a sociedade.

Essa teia de favores, financiamento ilegal de campanha e nomeações políticas é a estrutura invisível que sustenta o poder das máfias, que já operam como um verdadeiro Estado paralelo, inalcançável para as leis que deveriam reger o país.

Essa lamentável situação não pode ser atribuída à ignorância ou a uma falha de comunicação. A verdade é que não faltaram alertas, denúncias. O que de fato vem ocorrendo é uma leniência deliberada das autoridades que, na prática, permitiu que a infraestrutura criminosa se consolidasse sem grandes obstáculos.

É preciso romper com a retórica vazia da esquerda ou direita; está provado que o crime não tem partido e se adapta a qualquer ambiente político que lhe ofereça brechas, usando o próprio sistema a seu favor para lavar dinheiro e impor sua agenda de violência, drogas, crimes contrabando, dominação de cidades e segue por aí a lista infindável de malfeitos dos bandidos. Que agora usam colarinho branco também.

A falência moral do sistema é a real causa de sua ascensão, e a “passada de mão” para esconder essa realidade é o maior obstáculo a minimização do problema. A complacência se tornou uma política de Estado, onde as regras são distorcidas para favorecer os interesses de grupos criminosos, e a sociedade e o país, são as principais vítimas dessa cumplicidade sorrateira e silenciosa.

A prisão de operadores de campo é uma etapa necessária, mas a guerra real exige uma ação profunda, sem precedentes, que vá muito além das bases operacionais. O desafio que se impõe é desarticular o sistema político e burocrático que protege o crime organizado, as máfias, e lhes permite prosperar. A sociedade precisa pressionar por reformas que garantam a independência das investigações, a celeridade da justiça e a responsabilização dos corruptos.

A impunidade dos poderosos é o oxigênio do crime organizado. O sucesso definitivo não será medido pelo número de prisões, mas pela capacidade do Estado de expurgar a podridão de suas próprias fileiras, garantindo que o combate se torne, de fato, intermitente e contínuo contra as máfias que já se apoderaram de vastas áreas do Brasil. O monstro não é só a facção criminosa, mas também a falência moral do sistema e de grande parte dos seus componentes, que os alimenta.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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