No fio da navalha

Ainda não me arrependi de ter votado para presidente no capitão Jair Messias Bolsonaro, mas confesso que não esperava um governo tão cheio de problemas, especialmente partindo dele e de seus três filhos parlamentares, um vereador pelo Rio de Janeiro; outro, deputado federal pelo estado de São Paulo; e um terceiro, senador da República. Como a maior autoridade do Brasil, esperava um mandatário equilibrado, agindo como o presidente de todos os brasileiros, e com força suficiente para se impor diante dos filhos políticos. Mas como ele próprio não consegue se controlar, para buscar esse equilíbrio que se espera, não poderiam ser diferentes as atitudes dos herdeiros.
Por esse comportamento e outras dificuldades naturais do cargo que ocupa, num país quebrado financeiramente, fruto dos desvios de recursos públicos, onde políticos, entre eles um ex-presidente da República, ex-governadores, parlamentares, prefeitos e empresários estão presos, esperava-se que Jair Bolsonaro tivesse o equilíbrio suficiente para continuar tendo o apoio dos seus eleitores e até de quem não votou nele. Esse era o momento para aumentar a sua popularidade e fazer história, limpando a casa e fazendo um governo da recuperação fiscal, financeira e econômica. O presidente está sendo inábil na sua maneira de fazer gestão, que briga até com seus principais assessores, como os ministros Paulo Guedes, da Economia, e Sérgio Moro, da Justiça.
Independente da luta para aprovar as reformas trabalhista e previdenciária, o ministro Paulo Guedes vem vencendo todas as batalhas travadas no Congresso Nacional. A própria oposição ensaia uma guerra, mas o grito não está sendo tão forte para conseguir atrapalhar essas mudanças previstas pelo governo federal. Por outro lado, mesmo com a bateria de denúncias que vem sofrendo da parte do site Intercept Brasil, Sérgio Moro ainda é o ministro mais respeitado e confiável por parte do povo brasileiro. Às vezes tem até que engolir seco com o presidente Bolsonaro, especialmente nessa briga pelo comando da Polícia Federal, cargo da confiança do ministro.
No entanto, é da parte do presidente e dos seus filhos que aparecem os maiores problemas da governabilidade. O caso mais recente está relacionado com as queimadas na Amazônia e na região do Centro-Oeste brasileiro, quando alguns mandatários de países europeus quiseram se envolver, fazendo declarações mais fortes sobre os episódios que não agradaram ao presidente Bolsonaro, que, sem papas na língua, respondeu do seu modo, o que provocou um constrangimento geral. Que o digam Emannuel Macron (França), Angela Markel (Alemanha) e Michelle Bachelet (Chile).
Na verdade, qualquer outro presidente teria uma atitude diferente ao defender a soberania do Brasil sobre a Amazônia. Mas, um gesto diferente do Bolsonaro é exigir demais. Quem nasceu para ser capitão, não pode ser cobrado como general. Na sua trajetória como militar e como parlamentar - 28 anos na Câmara dos Deputados -, Bolsonaro nunca foi muito bem aceito, exatamente por esse jeito estranho de ser, de agir e se expressar. De qualquer maneira, como diz o slogan: “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, esperemos que as mudanças ainda possam vir, inclusive da parte do presidente Bolsonaro, que nunca chegará a ser um estadista, mas pode melhorar.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA