Briga de ego
Onde falta sabedoria emocional, a dor não se dissipa; pelo contrário: se cristaliza, se expande, ganha dimensão tóxica, não cessa, contamina outros e outros membros, ajuda a construir uma realidade cada vez mais densa, nociva, insuportável, perigosa. Onde quer que haja dor, é preciso transmutá-la, independentemente da sua origem. Tratar a dor, aliviar, curar, diluir e transformá-la em aprendizado, em força para seguir adiante sem ranço, sem mágoa, sem rinha, com leveza na alma, é o que pode nos tornar vencedores. Ficar estagnado na dor certamente é a pior opção. Isso serve para todos os campos na vida.
O que estamos vivenciando no Brasil, por exemplo, e piorou após o resultado das eleições, também se encaixa nesse contexto. Faz tempo que duas correntes antagônicas travam uma disputa que vai além da política, da democracia, de princípios filosóficos ... vai além de tudo que possamos imaginar. É briga de ego. Cada um se sente o dono da razão. Ninguém recua. Falta humildade, falta bom senso, falta Deus. Tem lupa para ampliar infinitas vezes os defeitos dos adversários. Tem muita ‘arma e munição’. Ora, em tudo que se dá zoom, se encontra algo que merece ser lapidado, não trucidado – e isso faz grande diferença.
Desarmar/dominar o ego é desafio de gente grande (gigante). Se admiramos algum tipo de grandeza, que seja a da alma, jamais a do ego. O primeiro manda revidar; o segundo, pacificar, ressignificar. A dor da perde há de ensinar lições estratégicas para o enfrentamento de novas batalhas. Ficar empacado no luto não sara nenhuma ferida. Pior ainda quando o ego abre brecha para o inconformismo e a vingança, como se isso fosse algum elixir. A ferida cura com o tempo, à medida que amadurecemos e desenvolvemos atitudes assertivas. Não cabe truculência, alfinetada, deboche, provocação, dedo na cara, chavões, memes, enfim, isso só faz retroalimentar a dor, inflamar o todo e asfixiar a paz.
Melhor seguir em frente, diluindo a dor em perspectivas saudáveis de esperança. E nessa reconstrução, passar longe tanto da alienação quanto do fanatismo – ambos são nocivos. Sejamos conscientes. Vale manter olhar atento o suficiente para identificar erros e alternativas de correção viáveis. Aponte-as com o prazer de quem anseia o que é certo, nunca com arrogância ou ironia. Por fim, sejamos o gigante, o mito, o bom exemplo que desejamos ver no mundo. Afinal, qualquer melhora só acontece quando começa em nós mesmos. O resto é consequência.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA