Uma viagem inventada no feliz!
Texto por Dr. Álvaro Madeiro Leite
Só muito tempo depois dos meus primeiros passos na travessia para me tornar médico se revelaria o que a faculdade de Medicina da UFAL traria para minha vida: “... uma viagem inventada no feliz”. Foi o talento de Guimarães Rosa que me trouxe essa mensagem, no conto Às margens da alegria.
Suspeito que tenha atinado cedo demais para o continuum da travessia humana: o horizonte inicial da primeira infância, no município de Paulo Jacinto; em seguida, na cidade de lutas quilombolas, União dos Palmares, dos 6 aos 14 anos. Alcançar Maceió, em 1974, para o ensino médio, e o período de 1977 a 1982, para cursar Medicina na Universidade Federal de Alagoas, talvez tenha produzido a mesma explosão quântica da primeira infância: aprender a conhecer; aprender a pensar; aprender a conviver; aprender a amar; aprender a abraçar pessoas e ideias. Posso dizer clara e enfaticamente que a UFAL — sua estrutura, seus professores e funcionários — possibilitou que eu iniciasse a vida de estudos superiores, a vida universitária, aliando conhecimentos técnico-científicos e disciplina para aprender sobre a complexidade dos humanos e do mundo. Saudades!

A homenagem, a dádiva de agora, me encontram devedor e tributário da travessia alagoana — conectam um senso de gratidão com o gesto inaugural da minha vida adulta, disciplinada, ousada, inventiva.
Na UFAL, estudei Medicina e aprendi a buscar uma ética amorosa para minha vida social. Foi esse comentário que, nas entrevistas para residência, e mais tarde para o mestrado e doutorado, me fizeram os professores arguidores.
Vem novamente, após quase meio século, a UFAL deixar comigo uma alegria, uma vitalidade, um senso de comunhão que ultrapassa qualquer capricho de vaidade.
Estarei junto dos meus; estarei em solo alagoano; na cidadania alagoana; na cultura alagoana. Os mesmos que cuidaram da minha embriogênese médica!
Agradeço a homenagem com meu mais profundo sentimento de gratidão e respeito a todos os que fizeram e fazem a nossa UFAL — e, em especial, a todos os ufalinos que compartilharam comigo o alvorecer de tantos talentos e vocações.
“...A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada, cheio de pitombas, escondido atrás de uma porta.” Assim Graciliano Ramos inicia seu livro Infância. Na minha memória, ficaram os caminhos para o prédio da Faculdade (fig. acima) e para o Hospital Universitário — aquele localizado no Tabuleiro do Martins, lá mesmo onde resistiam as instalações em terra da Companhia Petrobrás.
A solenidade oficial da comemoração será na quarta-feira, 7, no auditório da reitoria, no campus A. C. Simões, da Ufal, às 9h, presidida pelo reitor Josealdo Tonholo e pela diretora Ângela Canuto.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA