Afaste a solidão
Texto de Ricardo Nogueira – Médico e Prof. da Ufal
Segundo Aristóteles, ninguém pode dar-se ao luxo de viver sem amigos.
A amizade é cardioprotetora, anti-inflamatória, ajuda as sinapses nervosas.
O solteiro queixa-se de solidão, já o casado lamenta a ausência de solidão e trocaria o seu reino doméstico por um minuto de silêncio.
Passamos a vida empenhados em construir uma carreira, investir num futuro promissor, orientar cada filho, ler os clássicos para nos auxiliar na comunicação, deitar cedo e levantar ao alvorecer para cultivar o físico sadio e a aparência saudável. Resultado: ao erguer a cabeça, notamos estar sozinhos. Por quê? – Esquecemo-nos de fazer e cultivar amigos. Ficamos aflitos, surge então uma pergunta: será que diante de uma necessidade tenho quem me leve a um Pronto Socorro no meio da madrugada? – Constatação sombria: a maioria de nós está só.
Muitos, de tão cônscios da inseparável solidão, mergulham em suas moradas, de onde não saem nem para comprar alimentos, que lhes são enviados pelas mercearias. Só o porteiro do prédio, com a checagem diária dos condôminos, é capaz de registrar cada ausência.
Agora, ao nos darmos conta da importância superlativa da amizade, que fazer?
Fazer amigos, pois amigos que exercitam a arte de conversação rejuvenescem. A troca de ideias dá agilidade à mente. O humor em ação gera as gargalhadas, provocando em nós verdadeira catarse, deixando nossos cérebros novos em folha.
Companheiros há responsáveis por interpretações estupendas dos fatos, sendo assim pródigos em exageros operísticos, o que aguça nosso raciocínio na tentativa de compreendê-los.
Há também aqueles que sendo leitores contumazes, inundam nossas ideias de luz, mostrando-nos que a vida está na massa cinzenta.
Outros adoram falar do passado, de modo que ao abordar um assunto, fazem sempre uma retrospectiva histórica, convencendo-nos de que, sem conhecer fatos pretéritos, não se consegue pensar no futuro.
Nas reuniões sociais deparamo-nos com aqueles que, tendo os pés no chão, afirmam: sejam realistas, ninguém vive de comer poesia, afinal, o pão não chega à sua mesa porque o padeiro é solidário; o que move as pessoas é o lucro.
Outros se expressam com contundência, porque, segundo suas concepções, o conhecimento dá-se pela emoção.
Na tentativa de vencer a solidão, somos enriquecidos até por citações edificantes. Sabem o que Einstein disse a Chaplin? “O que mais admiro na sua arte é que você não diz uma só palavra e o mundo inteiro o entende”. Chaplin contra-argumentou: “Sua glória é ainda maior, porque o mundo inteiro o admira, mesmo sem entender uma só palavra do que diz”.
Outro colega pronuncia-se: Diga-me o que diferencia os animais? – O olhar. Como assim? – Os cães nos olham de baixo, os gatos nos olham de cima, só os porcos nos olham nos olhos, segundo Churchill.
VENCE-SE SOLIDÃO COM SOLIDARIEDADE.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA



