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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

Alagoas nas eleições presidenciais de 1910

16/09/2023 - 06:00
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Divulgação
Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro e Albuquerque Lins, alagoano que governou São Paulo
Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro e Albuquerque Lins, alagoano que governou São Paulo

As eleições presidenciais de 1910 arrastaram – mais uma vez – Alagoas para o cenário nacional. Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca, era apoiado pelo presidente Nilo Peçanha, e Albuquerque Lins, nascido em São Miguel dos Campos e presidente (espécie de governador) de São Paulo, disputava como vice na chapa encabeçada por Ruy Barbosa, era uma espécie de oposição mas que representava os mesmos interesses dos barões do café.

Hermes Rodrigues da Fonseca (1855-1923) era filho de Hermes Ernesto da Fonseca. Hermes-pai era irmão do marechal Deodoro, primeiro presidente da República, e do primeiro governador de Alagoas, Pedro Paulino, os três nascidos em Alagoas. Hermes-filho nasceu no Rio Grande do Sul, da gaúcha Rita Emília Fernandes Barbosa.

Manuel Joaquim de Albuquerque Lins (1856-1926) nasceu em São Miguel dos Campos, filho de dono de engenho e rico de berço, diferente da humilde origem dos Fonseca, cuja ascensão social só veio na carreira militar. Manuel era primo de Visconde de Sinimbu, senador no Império. Como também era comum na época (porque ainda hoje funciona assim), ingressou no Direito, foi indicado promotor, juiz, mudou para São Paulo e caiu na graça dos ricaços paulistas quando casou com Helena de Sousa Queirós, filha do senador (nos tempos imperiais) e barão Sousa Queiros.

Hermes da Fonseca era ministro da Guerra quando Afonso Pena presidia o país. Pena morreu em 14 de junho de 1909 e foi substituído pelo vice Nilo Peçanha, que manteve um acordo construído passo a passo: tornar o sobrinho de Deodoro presidente da República. O Clube Militar aproveitou o aniversário de Hermes para mostrar “uma grande manifestação” de apoio ao herdeiro do marechal, que morreu em 1892 triste e amargurado pela experiência no Executivo.

Deodoro não tinha traquejo político quando chegou ao poder. Acreditava que poderia fazer a oposição monarquista recuar dando ordens. E não recuou, mesmo quando fechou o Congresso e empastelou jornais que despinicavam sua honra. O Brasil não era um quartel.

Outros eram os tempos de Hermes. A república café com leite revezava paulistanos e mineiros na Presidência da República. Pensando bem: os tempos eram ruins. O povo era arrastado, na marra, para longe dos centros urbanos, resultando nas primeiras favelas. A Belle Époque massacrava os mais pobres, os descamisados, na tentativa de modernizar as cidades. O povo reagia, recusava tomar a vacina, enquanto casebres foram destruídos dando lugar ao luxo e ostentação dos novos barões.

Ignorando o caos urbano, Hermes da Fonseca e Albuquerque Lins disputavam votos palmo a palmo. A Gazeta de Notícias, de 3/3/1910, registrava que em São Miguel dos Campos, terra de Albuquerque Lins, “os situacionistas [ligados a Hermes] daqui, certos de sua derrota na 1ª e 2ª secções, não abriram os respectivos edifícios até a uma hora e um quarto da tarde. Consta terem sido lavradas atas falsas em casa do juiz de Direito do município, Dr. Francisco Duarte, – isso por ordem do próprio governador do Estado. Quanto as atas de Coruripe, Limoeiro e Olho d’Água, consta haverem sido lavradas há alguns dias”.

As seções eleitorais de São Miguel dos Campos foram fechadas por ordens de Sampaio Marques e Miguel Palmeira, eleitores de Ruy Barbosa. Mas o juiz votava em Hermes e era peça fundamental na elaboração das falsas atas. A Gazeta de Notícias registra que Alagoas realizava a eleição mais fraudulenta do país. Policiais à paisana, nomeados pelo governador Euclides Malta, enchiam as seções eleitorais, intimidando o povo. Sob pressão e ameaça de cacete, o povo deu vitória ao sobrinho de Deodoro.banner

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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