Os misteriosos documentos sobre Alagoas que a ditadura destruiu
Entre jornais e revistas destruídos pelo governo federal na ditadura militar estão arquivos oficiais de órgãos públicos alagoanos, como a Assembleia Legislativa. Alguns destes papéis pareciam banais, como pedidos de licença para tratamento de saúde de deputados como Nelson Simões Costa, Gilberto Sarmento, Aderval Tenório, João Toledo, Areski Freitas e Elísio Maia.
Mas, qual a relevância destes papéis? Não se sabe. Outros mostram o que a ditadura classifica como “corruptos Alagoas enquadrados AI5”. E cita: José Marçal Cavalcante, Marcos Bernardes de Melo, Carlos Guido Ferrário Lobo e José Afonso de Melo. É bom lembrar que os “corruptos”, para a ditadura, eram aqueles que contrariavam pontos de vista (em todo ou em parte) dos militares, muitas vezes nem significando o envolvimento deles em atividades consideradas ilícitas pelo regime.
Nesta parte, os documentos destruídos acompanham apenas códigos com as profissões de alguns deles: desembargador, promotor, funcionário estadual, procurador da República, latifundiário, além de números. O que a ditadura sabia sobre eles? E por que pediu que estes documentos fossem destruídos? Talvez nunca saibamos a resposta.
Outro documento aponta a demissão de um contador da Caixa Econômica Federal, Luiz Alves Montenegro, com o indicativo “tem anexo”, podendo ser mais detalhes a respeito deste funcionário ou os motivos da demissão. Seja como for, ganhou carimbo e assinatura de material a ser eliminado.
Outro documento, repleto de códigos em letras e números, tem como assunto “revisão aposentadoria servidores Alagoas”, citando o governo alagoano. Há três nomes na lista: Lamenha Filho, que foi governador no início dos anos 70 e totalmente alinhado ao regime; Luiz Gonzaga Moreira Coutinho e Hamilton de Carvalho Morais. Aparece também o nome da Assembleia, sem estar claro o contexto.
Cita-se que Lamenha Filho tinha ocupação no Governo de Alagoas; Luiz Gonzaga e Hamilton estavam enquadrados em atividades criminosas, termo dos militares. O primeiro era ex-deputado; o segundo, ex-vereador. Quais crimes? O que diziam os papéis? Nada mais se fala, a não ser “indexação revisão aposentado”.
Há ainda três deputados federais e um suplente: Oseas Cardoso Paes, Cleto Marques Luz, Djalma Falcão e Manuel José Machado Barbuda, este último o suplente. Indicam-se deles informações sobre os gabinetes; identifica Djalma como envolvido em atividades criminosas. E, mais abaixo, a indicação de documento a ser destruído.
Outro aponta o delegado do Ministério da Agricultura de Alagoas, Paulo Calheiros Gomes Barros, como “corrupto”, assim como Camilo José da Rocha, que era agrônomo. Mais adiante, “indexação corrupção Delegado MA ALA 1”, talvez mais documentos indexados, porém e também eliminados para sempre.
Outro na lista dos corruptos, no entendimento da ditadura, era o prefeito da cidade de Maravilha Florisval Brandão Marques. A indicação “ALA 15”, talvez o local onde estava a documentação e, mais embaixo, “ser destruído”. Nada sobre seus crimes.
A ditadura, seus segredos e rastros apagados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA