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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

A TFP e os ‘escravos de Maria’

24/05/2025 - 06:00
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A Tradição Família e Propriedade (TFP) ainda atua no Brasil, mas é no passado que as suas pautas se entrelaçaram com a estratégia autoritária dos militares, no golpe de 1964. Radicais católicos estavam na base deste movimento, combatendo o comunismo, o marxismo cultural e, para manter seus filiados e financiadores “acesos” diariamente, a sustentação a qualquer custo da família e a condenação do divórcio.

Eram radicais porque chegaram a aliciar meninos de 13 e 14 anos para uma de suas sedes estaduais, em Porto Alegre, e ensiná-los a atirar com armas calibre 38 e 7,65 além de táticas de guerrilha, como prática de rastejo, além de judô e karatê, conforme denunciou em 1973 o jornal Zero Hora.

Chamados de “escravos de Maria” estavam prontos para matar (ou morrer) pelo Brasil. Tinham de abandonar até a família (logo eles, fervorosamente treinados a atacarem os inimigos do lar); jamais trocar a roupa na frente do outro; seguir uma cartilha de bons modos e incluir nos discursos: contra o divórcio e o comunismo. Para se livrar de suas culpas, os menores eram açoitados. Após essa “libertação”, esse puro guerreiro dos céus passava a usar revólveres.

A TFP obrigava seus fanáticos a fazer uma peregrinação de 40 km a pé, entre Taubaté e Aparecida do Norte, rezando para Nossa Senhora Aparecida pela derrota dos comunistas e a favor dos fundamentos dos cristãos mais ortodoxos.

Um dos prêmios para tantos sacrifícios era a satisfação e o reconhecimento de generais, autoridades e representantes das famílias dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto e da família imperial.

Como se vê, toda essa estrutura em operação naquele Brasil autoritário e complexo precisava ser bancada. Os estados tinham seus financiadores – e Alagoas não era diferente. Usineiros e pessoas físicas alagoanas ajudavam a contribuir com a TFP.

Foram as usinas S/A Leão Irmãos- Açúcar e Álcool, Coruripe e Cansanção de Sinimbú. Também o Sindicato dos Usineiros (Associação dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de Alagoas). As empresas Almeida Costa & Cia, Carneiro & Moura LTDA, Hotel Beiriz LTDA, Indústria e Comércio Dalmo Peixoto, Irmãos Loureiro & Companhia LTDA, Oscar Cunha Indústria e Comércio LTDA. E doadores físicos: Arnóbio Valente, Domingos Antunes, Luiz Pereira da Silva, Marco Aurélio Pereira Munt, Oscar de Souza Cunha, conforme a “Relação dos Donativos em Dinheiro Recebidos Durante o ano de 1973”, tudo detalhado no balanço financeiro da sociedade.

Com as contas pagas, os escravos de Maria rezavam e agiam para exorcizar os “fantasmas do comunismo”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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