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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

A lâmpada de alfavaca

04/11/2023 - 06:00
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Divulgação
Boca de Maceió, final do século 19
Boca de Maceió, final do século 19

Argemiro Augusto da Silva (nascido em Pão de Açúcar, 1855) já era conhecido por construir motores mecânicos e, mais tarde, relógios elétricos. Era foguista na Estrada de Ferro de Paulo Afonso quando fabricou pequenas máquinas a vapor para terra e água, bem como um motor mecânico para máquina de costura, apresentado em Maceió em 27 de janeiro de 1884. O motor ficou em exposição no Centro de Maceió, na casa de um amigo, até ser incorporado ao acervo do Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas. Alagoas era uma terra provinciana, Maceió ainda mais.

E Argemiro sabia como os inventores europeus ou americanos se faziam crentes de suas ideias: anunciavam espetáculos públicos, convidando gente e imprensa para testemunharem seus feitos. Depois, a ideia era patenteada. Os jornais atestam muitas viagens à capital do Império (Rio de Janeiro), onde providenciava os documentos enquanto organizava novas apresentações sempre com o apoio de outros alagoanos como Ladislau Netto e da imprensa. Era proprietário da Relojoaria Argemiro, na rua do Conselheiro Sinimbu, antiga rua do Comércio, 68, quando, em 18 de janeiro de 1887 e ao lado do seu ajudante José Simões, apresentou sua mais famosa invenção: a lâmpada elétrica.

Thomas Edison já havia comercializado o modelo de lâmpada incandescente em 1879. Mas a ideia de Argemiro era ainda mais espetacular: uma fibra extraída da alfavaca, cuja sabedoria popular diz ser um ótimo anti-inflamatório e antioxidante, misturada a ácido sulfúrico e submetida a processos de laboratório. Organizou nova apresentação, só que no Rio, num dos salões do Liceu de Artes e Ofícios, em 9 de julho de 1887, segundo atesta a Revista de Engenharia.

As lâmpadas inventadas por Edison, Joseph Wilson Swan e Argemiro foram postas lado a lado. A do alagoano tinha maior brilho e duração. Foi ovacionado porém não escapou dos críticos. O engenheiro Aarão Reis punha em dúvida os custos de fabricação da lâmpada de Argemiro e a comercialização do feito. Bem, Thomas Edison já tinha conseguido toda essa articulação com o governo americano. Virou empresário e ficou rico.

Em 4 de julho de 1887, Argemiro encaminhou ao Ministério da Viação e Obras Públicas o pedido de registro da “Lâmpada Elétrica Brasileira”. O poder provincial alagoano até se interessou em colocar em prática a invenção de Argemiro. Mas não seguiu adiante: nem viabilizou sua lâmpada de alfavaca nem fez dele um empresário de iluminação pública em Maceió. Mais uma vez, a roda do progresso foi travada pelo poder local.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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