Escândalo da beleza e o modernismo brasileiro na academia de Londres
Escândalo da beleza é a celebração da arte modernista brasileira e sua evolução entre 1910 e 1970, enfatizando a originalidade da expressão artística nacional e o influxo internacional desses artistas, por meio de mais de 60 quadros expostos de uma só vez na Real Academia de Artes de Londres. Anita Malfatti, Tarsila, Burle Marx, Portinari, Lasar Segall, Volpi, Djanira, Flávio de Carvalho, Geraldo Barros e Rubem Valentim estão presentes em Brasil, Brasil! O nascimento do modernismo brasileiro, exposto na Royal Academy de Londres — de janeiro a abril de 2025.
Disparei correndo do Museu Britânico, mal tinha terminado de ver a sessão egípcia no térreo, rumo ao espaço Burlington House da Academia Real de Artes, antes que a hora de entrada se esgotasse, consciente de que dificilmente teria outra chance de saborear tanta beleza em um único evento. Ficamos três horas apreciando a exposição, passo a passo. Minhas filhas e eu estávamos em périplo europeu para comemorar os recém-chegados 70 anos e minha entrada na real senectude. Começamos por Londres, passando por mais oito países em quinze dias. Deixei-me ser guiado por minhas crianças, Nina (32) e Carol (30). Lara, de 38 anos, resistiu a deixar o pequeno Caio, de dois, e ficou nas plagas alagoanas.
Mário de Andrade assinalou: “Nós temos que dar uma alma ao Brasil, e para isso todo sacrifício é grandioso, é sublime. E nos dá felicidade.” Era o primeiro quartel do século XX.
Na pintura, em Alagoas, o grupo entusiasta do modernismo foi liderado pelo pintor Lourenço Peixoto. Jorge de Lima, em entrevista no livro República das Letras, de Homero Sena, assinala que o modernismo chegou a Alagoas por imposição própria, e não por influência paulista. E o define assim:
“...havia em todo o país uma preparação psicológica para o advento de uma nova estética, prova-o o fato de o modernismo haver surgido quase ao mesmo tempo em diversos lugares. (...) Não passamos a fazer literatura modernista para imitar os nossos confrades de São Paulo e daqui [do Rio]. Abandonamos os velhos moldes porque também em Maceió, como em todo o Nordeste, àquele tempo, amadureceu e tomou forma, no espírito dos escritores, o desejo de fazer alguma coisa nova e diferente do que então se perpetrava por esse Brasil afora, na poesia, no romance, no ensaio etc.”
Mudança estética que se derramou por todas as artes. Tanto que, em 1927 e 1929, dois eventos foram realizados em Maceió: o Festival Arte Nova e a Canjica Literária. Em 1931, outro grande evento contou com a presença de personalidades como Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Jorge de Lima, Gilberto Freyre, José Lins do Rego e José Américo de Almeida.
O movimento modernista, surgido em 1922, rompeu com a arte acadêmica e a influência europeia, criando uma identidade artística nacional. Esta exposição integra a trajetória internacional do modernismo brasileiro, que já tivera uma mostra em 1944, também na Royal Academy.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA