Fernando Araújo e a ‘chicote’ do deputado

Nos 25 anos do EXTRA, Fernando Araújo é nome que se confunde com a história do jornal e do jornalismo local. Por décadas, trabalhou na Gazeta de Alagoas, naquele tempo o jornal mais lido do estado. Ainda conheceu o senador Arnon de Mello, pai de Fernando Collor. No EXTRA, porém, Araújo desabrochou, com texto marcadamente pessoal e também carregado nas tintas. Há duas décadas atrás escrever sobre crimes de juízes, promotores e deputados era contravenção. Valia uma lei antiga, mas não escrita: homens e mulheres de bem e de bens deveriam ser reverenciados. Uma herança do patriarcado imperial, que dava poderes ilimitados a senhores de engenho e proteção estatal contra seus desmandos.
Um deputado e um ex-governador invadiram a redação do EXTRA, atrás de satisfações por matérias que eles criam desabonadoras. Cícero Ferro reuniu capangas, chegou à redação e apontava para a “chicote” (o revólver). Ditou ao repórter o texto da próxima edição:
- Coloque aí: ‘Deputado Cícero Ferro, homem de bem...’
- Sim senhor, deputado.
Na semana seguinte, o jornal contou a história da invasão. Desobedeceu, portanto, as ordens do deputado.
Um ex-governador, ainda vivo, também invadiu a redação atrás de satisfações. Queria dar uma surra em quem tinha escrito contra sua moral vigente e inquestionável. Porém foi um grupo de jovens juízes, filhos de outros juízes, os moralizadores de plantão. Homens e mulheres das leis que invadiram a redação, gritavam palavras de ordem, davam carteirada porque o EXTRA mostrou que, em verdade, eles não passaram no concurso da magistratura por mérito e sim pelo velho cambalacho secular alagoano.
Pois é: estamos falando de histórias bem recentes, duas décadas atrás, quando um ex-governador conseguiu suspender a circulação do EXTRA e tantos outros casos que não podem ser revelados porque os vivos influenciam rostos e canetas dos podres poderes.
Fernando Araújo completou 75 anos em 2023. Resistiu até quando pôde ter um e-mail. “A internet não vai durar muito”, me disse a este repórter ainda iniciante. Acreditava que as bancas de jornais seguiriam soberanas. Errou a previsão e hoje Araújo é viciado em redes sociais. Mas o jornal ainda segue o mais lido nas bancas, apesar do site funcionar a plenos pulmões.
Também é preciso se ajustar à modernidade para revelar as velhacaria. Afinal o mundo gira. E o EXTRA circula todas as semanas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA