colunista

Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

Histórias em fotos

30/03/2024 - 06:00
Atualização: 28/03/2024 - 22:21

ACESSIBILIDADE


Uma foto de 1974 mostra o jornalista e então funcionário do Banco do Brasil, Antônio Manoel Góes, no programa "A Grande Chance", apresentado por Flávio Cavalcanti, um símbolo da comunicação no país naquele momento. Nascido em Penedo, Antônio prestou concurso para o banco e foi embora para o Rio de Janeiro, onde mora até hoje, aos 81 anos. O estúdio da TV Tupi ficava a alguns quarteirões da agência do BB em Botafogo. Tinha curiosidade de continuar no jornalismo, seguindo a experiência que começou em Penedo. Arriscou no Flávio Cavalcanti e está aí a foto.

No meio do século passado, Penedo tinha dois jornais diários circulando. Um deles, "O Apóstolo", onde Antônio Manoel era colaborador desde os 14 anos. No Império circulou o "Jornal do Penedo". Autointitulava-se "órgão do comércio e lavoura do Baixo São Francisco e do Partido Conservador no Sul de Alagoas".

Penedo foi a primeira cidade a receber energia elétrica da usina de Paulo Afonso, inaugurada em 1954. Em 1957 chegava a Penedo o novo bispo, Dom José Terceiro de Souza. Tempos em que nem se cogitava a palavra internet ou computador. Os jornais eram impressos em bobinas gigantes, pressionando o papel em lâminas. Não havia gravador na rádio da cidade, então as notícias que eram lidas no ar pelos apresentadores eram redigidas à mão por alguém bastante atento ao ouvir as vozes de fora reproduzindo ou produzindo conteúdos de agências nacionais ou internacionais. A rádio de Penedo tinha de produzir oito boletins por dia. Também era usada a cola e a tesoura: as rádios recebiam os jornais, as notícias consideradas mais importantes eram recortadas e coladas numa folha de papel para serem lidas ao vivo, no ar. Eram tempos da rádio AM, quando os ouvintes conseguiam ouvir especialmente à noite vozes de americanos ou europeus, tempos em que a imprensa ainda noticiava as prisões "por vadiagem".

Antônio Manoel é filho de Manoel da Cunha Góes, o "Sinhô Goes", que falava dos escravos do pai Pedro Mártir de Góes, deputado provincial alagoano. Em 1871, Pedro resolveu libertar os escravizados. Era o ano da lei do ventre livre. Os pretos não tinham para onde ir e passaram a morar na fazenda do avô de Antônio Manoel. As famílias escravagistas de Penedo temiam que a iniciativa se espalhasse por suas terras. Um dos netos de Pedro, André Papini Góes, foi o primeiro diretor do "A Voz do Povo", jornal do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Antes, em 1932, era um dos soldados das forças legalistas da Revolução Constitucionalista de 1932.banner

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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