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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

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Sarney marca presença no ‘funeral’ da Arena

10/08/2024 - 06:00

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7 de julho de 1979. O senador José Sarney, presidente nacional da Arena, desembarca em Maceió para uma missão difícil: dar vitória à legenda em Rio Largo, há dez anos nas mãos do MDB.

Sarney viajava o país numa visita também classificada como “funeral” da Arena. Buscava, junto às lideranças e em cada lugar que passava, espantar o mau agouro. Mas naquele ano a ditadura não estava mais em curva ascendente no poder; o presidente recém empossado João Baptista Figueiredo foi o último dos generais e não havia mais forças capazes de inventar novas conspirações ou golpes como em 1964. Nem tirar mais sustos do tal fantasma do comunismo. Afinal, o próprio governo brasileiro já negociava com a China comunista.

Voltando a Rio Largo. Cidade operária, segunda maior arrecadação em ICMS de Alagoas, o povo se preparava para as eleições fora de época. O prefeito e operário Mário Francisco da Silva, do MDB, estava afastado do cargo, acusado de corrupção. Em breve, numa escancarada jogada política local, estaria preso. O governador Geraldo Melo nomeou, à revelia, Ciridão Durval como interventor, sem conhecimento do prefeito.

Quando a comitiva do governador chegou a Rio Largo, levando o interventor, o prefeito não ficou surpreso. Despediu-se dos funcionários:

- Para os que ficam, tchau.

Desde o início do ano ele denunciava que o governo havia empurrado Alagoas para a falência. Rio Largo, assim como outras cidades, não tinha dinheiro nem para pagar mais nada porque nem os repasses do Estado aos municípios eram respeitados. Citou que Maragogi, administrada pela Arena, estava em situação idêntica a Rio Largo, mas o governador Geraldo Melo silenciava porque o prefeito era aliado.

Mário Francisco associava a intervenção a uma estratégia do governo de retirá-lo da disputa a deputado estadual. Meses depois, o prefeito foi levado ao presídio São Leonardo.

Uma Comissão Geral de Investigação formada apenas pela oposição encaminhou ao Tribunal de Contas da União denúncias sobre um esquema de corrupção que desviou Cr$ 10 milhões, cheques da Prefeitura nas mãos de agiotas, salários atrasados há seis meses e as linhas telefônicas cortadas por falta de pagamento.

A comissão era liderada pelo interventor Ciridião Durval. E para não restar dúvidas a quem ele servia, declarou:

- Estou filiado, sim, a um compromisso de servir ao governador Geraldo Melo e tudo fazer para não decepcioná-lo nessa missão.

Mais sincero, impossível.

E cumpriu a palavra à risca: o trabalho de Ciridião Durval foi fundamental para que a cidade tivesse novas eleições. E com o campo limpo, José Sarney chegou a Maceió para ajudar Rio Largo a eleger um nome da Arena, qualquer um. Venceu João Teixeira, levado em setembro a Brasília para ser apresentado ao presidente João Figueiredo, também da Arena.

Meses depois, em 20 de dezembro, Figueiredo assinou a lei 6.767, reinstituindo o pluripartidarismo. O MDB viraria PMDB; a Arena foi extinta.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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