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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

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Um senador arranjado

21/09/2024 - 06:00

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Pode-se dizer que Leopoldo Bulhões, nascido em Goiás (1857), ocupou a cadeira de senador por Alagoas através de um acordo com as oligarquias locais, situação pouco investigada até hoje. Mas este acordo permitia que ele tivesse mandato apenas para manter poder e influência, através da nascente capital da República, para enfrentar a oposição à sua família, que crescia em Goiás.

Bulhões ocupou duas vezes o Ministério da Fazenda: de 1902 a 1906, quando o presidente era Rodrigues Alves, e de 1909 a 1910, no mandato de Afonso Pena. Era o Brasil da República Velha, do café com leite. São Paulo, produtor de café, e Minas Gerais, de leite, revezavam seus indicados na cadeira presidencial.

Bulhões era ao mesmo tempo um defensor de menor protecionismo e uma política menos industrialista, mas ergueu maior fiscalização à atuação das companhias estrangeiras no país e criou instrumentos de ação estatal nas áreas financeira e tributária. Instituiu uma Inspetoria de Seguros do Tesouro Nacional, reorganizou a Casa da Moedas e as delegacias fiscais nos estados, criou o Banco do Brasil, regulamentou as loterias e elaborou o projeto do Código de Contabilidade Pública.

Suas preocupações, porém, estavam mesmo em Goiás. Aliados ou familiares dos Bulhões passavam o poder de mão em mão, mas a oligarquia errou ao apoiar José Xavier de Almeida para governar o estado. Pouco a pouco, ele se afastou dos Bulhões e casou com Amélia Lopes de Morais, filha de Hermenegildo Lopes de Morais, uma das maiores fortunas de Goiás.

Nascia uma nova oligarquia. Leopoldo Bulhões, por óbvio, arregimentou todos os poderes que tinha na capital federal. Em 1905, Miguel da Rocha Lima venceu o governo em Goiás, apoiado por Xavier de Almeida. Os Bulhões pediram intervenção do presidente da República e a homologação do senador Joaquim José de Sousa como novo governador. O Congresso rejeitou a intervenção.

Em 1908, o próprio Leopoldo Bulhões se apresentou como candidato a governador. Xavier, já deputado federal, lançou o sogro Hermenegildo Lopes de Morais, que acabou eleito em 2 de março. Instalou-se a Revolução de 1909, financiada pelos Bulhões. O governo caiu.

Em 1909, foi eleito pela primeira vez senador por Alagoas. Não há comprovação sobre sua presença no estado. Na página do Senado Federal, não há proposições suas para Alagoas. Foi reeleito outras duas vezes por Alagoas: em 1912 e 1915.

Morreu aos 72 anos, em 1928, na cidade de Petrópolis, no Rio. Sem nunca ter colocado os pés em Alagoas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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