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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

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Fenômenos que sucumbiram: Suruagy e Cícero Almeida

12/10/2024 - 06:00

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Votações acachapantes, popularidade inquestionável. Divaldo Suruagy e Cícero Almeida, cada um em seu tempo histórico, também agregaram multidões por onde passavam. Suruagy, eleito pela terceira vez governador em 1994 com 82% dos votos. Almeida, reeleito prefeito de Maceió em 2008, alcançou 81,49%. Nunca antes na história, desde a redemocratização, um governador e um prefeito em Alagoas tiveram tantos votos. Eram quase unanimidade.

Suruagy ainda está inabalável na sua posição. Já Cícero Almeida foi ultrapassado nas urnas pelo prefeito JHC, reeleito no domingo, 6 de outubro, com 83,25%.

Em 1º de janeiro de 1995, três anos após o impeachment do presidente Fernando Collor, Divaldo Suruagy presenciou uma cena inédita nos seus 40 anos de vida pública. Logo após ser empossado com as pompas e circunstâncias exigidas, acompanhou o antecessor Geraldo Bulhões, o GB, aos portões do Palácio Floriano Peixoto, na Praça dos Martírios. Era uma parte do ritual festivo, a “passagem do bastão”.

Duas realidades distintas e extraordinárias se encontravam naquele instante: o fenômeno Suruagy e GB saindo do Palácio coberto de vaias.

Em outros tempos, a cavalaria e os cassetetes da polícia calariam as vozes insatisfeitas. Mas o Brasil era outro e Alagoas também. Para diminuir o constrangimento, Suruagy acompanhou Bulhões até os portões do Palácio.

Horas depois, falou à esposa Luzia:
— Espero que não aconteça conosco.

Aconteceria. E de forma bem pior.

Foi obrigado a se afastar do governo em 17 de julho de 1997. Servidores públicos foram para as ruas e ameaçaram invadir a Assembleia Legislativa. Lá dentro, estavam os deputados estaduais. Ou Suruagy renunciava ou o Exército atiraria. Funcionários públicos estavam há meses sem receber salários. Policiais militares também, e estavam armados, ao lado dos manifestantes e prontos para revidar se houvesse chuva de balas.

Suruagy deixou o Palácio pela porta dos fundos. Ali encerrou a vida pública. Ainda voltou a Brasília em 2001. Era suplente de Albérico Cordeiro, que ganhou as eleições em Palmeira dos Índios. Entregou a Suruagy a vaga de deputado federal.

Cícero Almeida era o forrozeiro, taxista e popular repórter policial da TV Alagoas. Animado, o usineiro João Lyra confessou, em entrevista à IstoÉ, que transformou um taxista em prefeito de Maceió. Nada mais apropriado, confirmando o poder das tradicionais famílias do açúcar.

Em 5 de outubro de 2008, a Folha de S. Paulo estampava: “Cícero Almeida já é cotado para se candidatar ao Governo”. Em 30/09/2008, o Valor Econômico dizia: “Em Maceió, prefeito é bom de voto e de forró”. “Perfeito é Deus, prefeito, Cícero Almeida”, repetia Almeida, na terceira pessoa.

Em 2010, porém, Cícero Almeida foi preterido para disputar o Governo de Alagoas. Apoiou Fernando Collor, derrotado logo no primeiro turno.

Em 2012, de saída da Prefeitura, não elegeu o sucessor, que era Ronaldo Lessa – impedido pela Justiça Eleitoral – substituído um dia antes por Jurandir Bóia. Venceu Rui Palmeira.

Ex-fenômeno das urnas e ex-paparicado pela classe política alagoana, Cícero Almeida anunciou em 7/10/2024 o encerramento de sua carreira na política, após 1.793 votos na disputa para uma vaga na Câmara de Vereadores. Os imperadores também sucumbem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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