Biografia de Prudente reabilita imagem de presidente alagoano
Novas investigações realizadas pela escritora paulista Thereza Christina Rocque da Motta reabilitam a imagem do alagoano Floriano Peixoto, segundo presidente da República, mostrando como ele foi importante para a transição do governo da chamada “República da Espada” para o período civil, iniciado por Prudente de Moraes (1894-1898).
Nascido no bairro de Ipioca, em Maceió, Floriano é uma figura controversa. Em “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor carioca Lima Barreto, o presidente é retratado quase como uma caricatura. Ao mesmo tempo, sua administração foi violenta. Por causa dele, Florianópolis, capital de Santa Catarina, recebeu seu nome. Homenagem do governador Hercílio Luz, até hoje contestada pelos catarinenses, pois 298 pessoas foram fuziladas por ordem de Floriano em 1894, na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim.
Novos documentos, porém, encontrados pela escritora, além dos diários de Prudente de Moraes, seu trisavô, mostram que Floriano conhecia o tamanho de sua popularidade nas Forças Armadas: foi decisivo na derrubada de Deodoro da Fonseca da presidência e teve até arroubos ditatoriais – sonhou em permanecer no poder, mesmo após as eleições –, mas defendeu a transição para o governo de Prudente.
Floriano votou em Prudente de Moraes na eleição indireta que escolheu Deodoro para a presidência. Também ajudou a pacificar as Forças Armadas – elas resistiam em aceitar um civil no governo – e o marechal deixou de comparecer à posse de Prudente para impedir outro golpe militar, como desejava parte do Exército. Uma bela manobra para que as atenções se voltassem unicamente ao paulista.
“Sabendo da insurreição que campeava nos quartéis contra a posse de um civil, e não querendo fazer parte de mais uma quartelada, refugiou-se em casa, para que, ao não ser visto em público, os militares desistissem da ideia. Assim, de forma dissimulada, Floriano apoiou Prudente, garantindo que ele assumisse, sem maiores transtornos, apenas se fazendo ausente”, analisa a escritora.
Vivendo ambos em constante confronto de vaidades, Deodoro e Floriano tiveram mortes absolutamente opostas. O generalíssimo reclamou de traição e exigiu ser enterrado vestido como um civil, sem homenagens, ordens que não foram atendidas. Por outro lado, Floriano recebeu também todas as honras militares, mas uma delas foi especialmente destacada nas anotações de Prudente: “Mandei depositar, sobre o caixão, na Igreja dos Militares, uma coroa com a inscrição seguinte: ‘Ao Marechal Floriano Peixoto – Prudente de Moraes’”. Floriano não fez o mesmo por Deodoro.
Este fato deixou o presidente preocupado: “Qual será o efeito desta morte nos destinos da República? O tempo o dirá; mas tudo induz a crer que será benéfico”, anotou Prudente em seu diário. Estas e outras descobertas estão detalhadas na biografia “Prudente de Moraes: O Santo Varão” (Ibis Libris Editora), com previsão de lançamento em novembro de 2024, celebrando os 130 anos da posse do primeiro presidente civil da República, eleito por voto direto.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA