Ameaça de sequestro da filha do vice presidente dos EUA em Maceió
Em 30/8/1973, o The New York Times publica que a filha do vice-presidente dos Estados Unidos, Spiro Agnew, estava em Maceió mas teve de voltar para Washington, com urgência e sob ordens do pai. Isso porque existia um plano para sequestrar Susan Agnew, então com 25 anos. O Brasil passava pela ditadura militar. Sequestros de autoridades estrangeiras faziam parte de ações estratégicas de grupos antiditadura para libertar presos políticos. “Filha de Agnew abandona o Brasil após denúncia de ameaça”, dizia o jornal americano, em tradução livre.
Os informes haviam chegado aos Estados Unidos. Nem o Serviço Secreto nem o Departamento de Estado acompanhavam a filha de Agnew. Seis agentes da Polícia Federal, revezados em grupos de dois, montaram uma operação especial para a passagem dela pelo Brasil.
Susan estava em Maceió a bordo do navio Hope, ligado ao projeto do mesmo nome. O Project Hope (ou Projeto Esperança, em tradução livre) percorria na época o litoral brasileiro em ações de saúde e ajuda humanitária. Foi fundado em 1958.
O navio-hospital estava previsto para chegar ao porto de Jaraguá em 15/2/1973. Segundo os arquivos confidenciais – agora públicos – do Serviço Nacional de Informação, o SNI, o Hope deveria permanecer na capital alagoana até dezembro de 1973.
Os planos mudaram em 29/3/1973. Naquele dia, o SNI transmitiu ao Ministério das Relações Exteriores um comunicado sobre carta anônima dirigida à PF indicando que, nos primeiros dias de abril, haveria “uma operação de sequestro cuja vítima seria a filha de um estrangeiro de grande projeção, com o objetivo de obter a libertação de companheiros subversivos presos em Brasília e São Paulo”.
Os documentos do SNI informam que Susan só retornou a Washington na última semana de agosto. Porque desde 29/8/1973 o Itamaraty passou a receber comunicações telegráficas da Embaixada do Brasil na capital americana, transmitindo artigos da imprensa sobre as ameaças de sequestro e até riscos à própria vida da filha do vice-presidente.
“(...) a ameaça recebida na última semana de agosto fora de ‘natureza demasiadamente grave para não ser levada em conta’, no que haviam concordado as autoridades de informações brasileiras e americanas”, explica Marsh Thompson, porta-voz do vice-presidente americano, segundo resume o documento do SNI.
O caso pegou as autoridades brasileiras de surpresa porque não existiam ameaças direcionadas a Susan. Noel Cuiabano, agente da PF em Maceió, disse – e está documentado pelo SNI – que mantinha contatos com William Walsh, diretor do programa Hope, que acompanhava a viagem do navio-escola e mantinha contatos com as autoridades americanas. “Sempre que eles [Walsh e Susan] sabiam de uma ameaça, ou ouviam rumores de um plano de sequestro, davam-nos orientação e nos esclareciam sobre a gravidade ou não dos mesmos”.
“(...) nenhuma ameaça fora jamais feita à segurança física de SUSAN AGNEW, nem mesmo de seqürestro, durante todo o tempo em que esteve a mencionada jovem em Maceió”, disse Cuiabano.
Walsh desmentiu o brasileiro na imprensa americana: “O próprio elemento que se diz estar negando ter havido ameaças foi o que costumava alertar-nos sobre as mesmas”.
E foi mais além: elogiou o trabalho da PF, mas jogou para o território da mentira as declarações do agente Noel Cuiabano. “Mas posso entender por que o estejam negando. Estão preocupados com suas fontes de informações, e como não desejam inspirar a seus terroristas idéias de sequestro, tudo fazem para abafar o assunto”.
O governo brasileiro engoliu, a seco, a desmoralização.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA