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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

A guerra esquecida (e desastrada)

07/06/2025 - 06:00
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Um episódio pouco conhecido e tratado pela história como desastrado terminou na morte de Dom Luiz de Rojas e Borja, governador da capitania de Pernambuco, atingido por um tiro em 18 de janeiro de 1636 durante a batalha da Mata Redonda, entre as cidades de Porto Calvo e Porto de Pedras.
O local ainda recebe o mesmo nome e atualmente é disputado pelos trabalhadores rurais sem terra e a Usina Camaragibe. Mata Redonda era o nome de um dos engenhos, batizado em homenagem às florestas que existiam na região. O engenho virou fazenda.

Estamos no Brasil colonial, em meio à guerra para a expulsão dos holandeses. Dom Luiz de Rojas e Borja veio da Espanha substituir Mathias de Albuquerque Coelho, neto do primeiro donatário de Pernambuco, que voltou a Lisboa sem ter conseguido expulsar os holandeses do Nordeste.

Antes de falarmos de Dom Luiz, é preciso voltar um pouco no tempo e entender que Espanha e Portugal estavam unidas pelo mesmo rei. Era a União Ibérica, que durou entre 1580 e 1640. O rei Dom Sebastião morreu em uma batalha na África, em 1578. Filipe II, rei da Espanha, se articulou com a nobreza portuguesa, aproveitou o trono vazio e também foi coroado rei de Portugal.

A união das coroas era vantajosa principalmente para a Espanha porque o Brasil já era o maior produtor do mundo de açúcar, além de exportar pau-brasil. Era, de longe, a colônia mais próspera de Portugal. E a mais cobiçada por franceses, ingleses e holandeses.

Os holandeses invadiram o Nordeste em 1624, ocuparam o rico solo de Pernambuco e a vantagem aumentou após Calabar engrossar as tropas. Calabar foi morto em 22 de julho de 1635 e a guerra contra os holandeses parecia próxima do fim. Só que não.

Em 29 de novembro de 1635 uma esquadra espanhola chegou ao porto de Jaraguá, em Maceió, trazendo ordens e, entre os tripulantes, Dom Luiz de Rojas e Borja. A Coroa exigia a substituição de Mathias de Albuquerque na guerra.

Dom Luiz veio, então, dirigir a guerra. Recebeu das mãos de Mathias de Albuquerque, em 15 de dezembro, o comando das tropas e o governo geral. Só que o inesperado aconteceu. Menos de um mês depois, em 18 de janeiro de 1636, Rojas e Borja marcha sobre Porto Calvo. Outra parte das tropas aliadas saiu da Mata do Rolo, hoje área pertencente a Rio Largo. As duas se encontraram e na região do Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, durante combate, um português, sem querer, atirou nas costas de Dom Luiz. A bala atravessou as costas, varou o peito. Ele olhou para seu algoz e disse: “É possível que isso seja feito comigo, estando entre fidalgos portugueses?”. E caiu morto.

As tropas de Portugal e Espanha se refugiaram em Paripueira, até avançarem, mais adiante e de novo, na direção de Porto Calvo. Enquanto isso, em Santa Luzia do Norte, o conde de Bagnuolo partiu em 15 de março para assumir o lugar de Dom Luiz.

A guerra ainda estava bem longe do fim.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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