Livro diz que Quilombo dos Palmares chegou a Quebrangulo e Maceió
Livro inédito do geógrafo alagoano Ivan Fernandes Lima (1921-1995) aponta que o Quilombo dos Palmares, ao contrário do que se pensa, não se concentrou apenas na Serra da Barriga, em União dos Palmares, mas tinha expansões pelo interior, chegando até Quebrangulo, Ipioca (em Maceió) e cidades pernambucanas.
Ele também levanta dúvidas sobre a data considerada histórica de extinção do Quilombo – ano de 1694 –, mostrando que pelo tamanho, as condições ambientais (acesso a água e terra bastante produtiva) e a articulação dos negros, Palmares resistiu mais tempo, não mais na Serra da Barriga, mas espalhado pelo interior e com um líder chamado Camoanga, sucessor de Zumbi que cometeu suicídio saltando da Serra Dois Irmãos, em Viçosa, durante o cerco português para caçar os negros.
Segundo Fernandes Lima, Camoanga foi morto em 1703. E foi sucedido por Mouza, segundo documentos históricos levantados pelo geógrafo, “corsário e cabo de um mocambo, filho dos matos dos Palmares”, mais adiante capturado e conduzido para a cadeia de Serinhaém.
Em 1716, o governador de Pernambuco ainda trata Palmares como um perigo, não mais com a estrutura anterior, porém com negros cometendo assaltos a engenhos ou transeuntes, ocupando matas alagoanas até a Freguesia de Ipioca “nas ribeiras do Quintude e Jititude”, incluindo matas de Passo do Camaragibe, sendo reprimido por forças regulares; e o do Pilar (quilombo de Songuê), egressos das matas de São Miguel dos Campos, aos quais outros se juntaram, debelados em 1861. Quase todos esses agrupamentos tiveram consequências mais sérias para as autoridades do poder repressivo de polícia.
As teorias levantadas por Ivan Fernandes Lima estão reunidas no livro que ele deixou pronto antes de morrer, O Quilombo dos Palmares: Uma Geografia da Liberdade, que será lançado, pela primeira vez, na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, que faz homenagem à África. Evento será de 31 de outubro a 9 de novembro, no Centro de Convenções Maceió. As editoras Eduneal e Edufal são as responsáveis pelo trabalho.
Baseado em documentos e outros estudos realizados sobre os negros e os quilombos alagoanos, Ivan Fernandes Lima diz que os aglomerados quilombolas surgiram após a destruição do “quilombo-chefe”, a Cerca Real do Macaco, em União, resistindo, sendo destruídos e os fugitivos erguendo novos quilombos e se espalhando pelos interiores. Tudo isso se esticando até bem próximo à Abolição.
Destruído o quilombo da Cerca Real do Macaco, as terras foram ocupadas pelos assassinos e ganharam outro nome: Vila Nova da Imperatriz “até aí chegava a estrada de ferro, inaugurada a 3 de dezembro de 1884; seu trecho inicial fora o de Maceió-Bebedouro”, descreve Ivan.
Mais adiante chamou-se União dos Palmares. Primeiro porque a estrada de ferro uniu Pernambuco e Alagoas. E Palmares em homenagem ao Quilombo.
“O antigo mocambo tornara-se uma cidade pelo colonizador que o conquistou e continua a cumprir o seu grande destino histórico, fruto dos heroicos quilombolas que o fundaram”, resume Ivan Fernandes Lima, chegando a alcançar uma população de 5 mil negros, parte da Cerca Real descrita no Diário do capitão Blaer, em 1645, reproduzido por Fernandes Lima:
“O rei também tem uma casa distante dali duas milhas..., a qual casa fez construir ao saber da nossa vinda pelo que mandamos um dos nossos sargentos com vinte homens afim de prendê-lo; mas, todos tinham fugido de modo que apenas encontraram algumas virtualhas de pouca importância; no caminho para a casa do rei tivemos de atravessar um monte alto e muito íngreme, da altura de bem uma milha; queimamos a casa do rei e carregamos os viveres”.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA