Jornalista, escritor, colunista do Jornal Extra, Tribuna do Sertão e presidente do Instituto Cidadão.

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A prisão de Bolsonaro: Hora errada, riscos desnecessários

09/08/2025 - 10:12
Atualização: 09/08/2025 - 10:13
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A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, embora sustentada por elementos jurídicos e indícios robustos de sua suposta participação em atos golpistas, ocorreu num momento politicamente inoportuno. Em vez de pacificar e reforçar a democracia, gerou uma crise institucional de grandes proporções, beirando confrontos físicos na Câmara e no Senado e acirrando ainda mais o clima de polarização ideológica que o país já enfrentava.

Os presidentes das duas casas legislativas – Senado e Câmara – foram colocados sob intensa pressão. Precisaram agir com cautela e habilidade para conter os ânimos, evitar rupturas e tentar manter o funcionamento harmônico entre os poderes. O desgaste, no entanto, foi evidente. A crise se instalou, ainda que temporariamente contornada, e revelou as fragilidades do pacto político-institucional que sustenta a governabilidade.

Internacionalmente, o episódio repercutiu negativamente, sobretudo nas relações entre Brasil e Estados Unidos. A imagem do país, já marcada por turbulências democráticas recentes, voltou às manchetes como uma nação instável, suscetível a rupturas e radicalismos. A diplomacia brasileira teve que operar com urgência para conter danos.

O ministro Alexandre de Moraes, peça-chave na contenção do bolsonarismo extremado e da escalada autoritária dos últimos anos, tem sido uma figura central na defesa do Estado de Direito. Sua atuação firme foi essencial para frear avanços antidemocráticos. Contudo, mesmo defensores da democracia reconhecem que nenhum magistrado está acima da crítica. Moraes tem cometido excessos. O acúmulo de poder, as decisões monocráticas de grande impacto e o protagonismo político-jurídico preocupam setores da sociedade que prezam pelo equilíbrio entre os poderes e pela impessoalidade da Justiça.

A pergunta que se impõe é: qual o benefício prático da prisão de Bolsonaro neste momento? A punição imediata, antes do veredicto final, atende a que interesse coletivo? Em termos de pacificação nacional, nenhum. Ao contrário, ofereceu-lhe novo palanque, reacendeu o antagonismo político, alimentou teorias conspiratórias e mobilizou sua base mais radical.

Justiça é essencial, mas também precisa ser estratégica. O enfrentamento ao autoritarismo exige firmeza, mas também sabedoria. Talvez fosse mais prudente aguardar o curso natural das investigações, o julgamento e a condenação definitiva – quando os fatos estiverem amplamente esclarecidos e o país menos vulnerável ao tumulto político.
A democracia brasileira ainda caminha em terreno movediço. 

Em vez de decisões que inflamam ânimos, o país precisa de serenidade, reconstrução institucional e um esforço coletivo pela estabilidade. Justiça, sim. Mas com responsabilidade e senso de oportunidade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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