recuperação judicial
Grupo Collor em Alagoas já soma R$ 100 milhões em dívidas
OAM enfrenta bloqueios judiciais e tenta salvar afiliada da Globo
Em meio a um colapso jurídico e financeiro, o grupo de comunicação da família do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em Alagoas, enfrenta uma lenta derrocada. Além das condenações judiciais e da perspectiva de prisão, Collor lida com o esfacelamento de um império midiático que já foi um dos mais influentes do estado.
Controlado pela Organização Arnon de Mello (OAM), o conglomerado — que inclui rádios, TVs, jornais impressos e digitais, além de uma gráfica — está em recuperação judicial desde 2019. O processo tenta reorganizar uma dívida que, segundo os autos, chegou a R$ 64 milhões na assembleia de credores, mas o passivo total ultrapassa os R$ 100 milhões, somando também R$ 32,4 milhões inscritos na dívida ativa da União.
Desse valor, R$ 23,2 milhões são atribuídos à TV Gazeta, afiliada da Globo em Alagoas desde 1975. A emissora é apontada como peça-chave no processo de condenação de Collor no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a acusação de ter servido como canal para o recebimento de propinas durante o período em que ele exerceu mandato no Senado.
O plano de recuperação judicial da OAM chegou a ser aprovado pelos credores em 2022. No entanto, denúncias de possíveis irregularidades no processo — incluindo suspeitas de “compra de votos” — levaram a Justiça a remeter o caso à polícia, onde segue em investigação.
Diante da demora na resolução judicial, ex-funcionários da OAM recorreram à Justiça do Trabalho para cobrar salários e indenizações atrasadas. Diversas decisões determinaram a desconsideração da personalidade jurídica da empresa, permitindo que as dívidas fossem cobradas diretamente dos sócios, incluindo Collor e sua esposa, Caroline Serejo. Em julho do ano passado, por exemplo, Caroline teve R$ 478 mil bloqueados para quitar pendências com uma ex-jornalista da TV Gazeta, em tratamento contra o câncer.
Também houve tentativa de penhora de bens de alto valor, como uma chácara de luxo em Campos do Jordão (SP), avaliada em milhões, com duas casas e quadra de tênis. A medida foi revertida após acordo com o credor, evitando o leilão do imóvel.
Disputa com a Globo
Conforme reportagem do UOL, do jornalista Carlos Madeiro, paralelamente à crise financeira, o grupo enfrenta uma batalha jurídica com a TV Globo. Desde o final de 2023, a emissora tenta encerrar o contrato de afiliação com a TV Gazeta e substituí-la pela TV Asa Branca, de Caruaru (PE). A Justiça de Alagoas, no entanto, obrigou a renovação compulsória da parceria por mais cinco anos, a partir de 1º de dezembro de 2024.
A decisão está sendo contestada no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que deve dar a palavra final ainda neste semestre. Nos bastidores, fontes ligadas à Globo consideram a saída da Gazeta uma questão de tempo. A OAM, por sua vez, já se movimenta para firmar contrato com outra rede nacional e evitar o colapso da emissora.