Ibovespa fecha 1º trimestre com perda de 4,53%; dólar volta a superar R$ 5,00

Por Agência Estado 28/03/2024 - 18:33

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O Ibovespa buscou recuperar as perdas do mês na última sessão de março, impulsionado pelos ganhos da Petrobras (ON +2,46%, PN +2,22%), em linha com a valorização em torno de 2% do petróleo no exterior. Apoiado na estatal, o índice conseguiu subir 0,33% e fechar aos 128.106,10 pontos, uma alta de 0,85% na semana.

Não foi o bastante: pressionado pelas perdas da própria Petrobras (ON -7,13%, PN -6,93%) no mês, devido ao temor de ingerência do governo na estatal, o índice de referência da B3 fechou março em queda de 0,71%. Esses receios respingaram em Vale ON, que perdeu 5,13% nesta base.

O índice chega ao fim do primeiro trimestre com perda de 4,53%, a maior desde o mesmo período do ano passado, pressionado pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai demorar mais para cortar juros e pela persistente incerteza fiscal doméstica.

O mercado começou o ano não só esperando que o Fed começasse a cortar os juros em março, como também que reduzisse a taxa em até 1,5 ponto porcentual em 2024. Ao longo dos meses, as expectativas foram sendo frustradas e as estimativas migraram para um corte inicial em junho e uma baixa total de 0,75 ponto.

Para o sócio-fundador da Veedha Investimentos Rodrigo Moliterno, a incerteza doméstica também prejudicou o desempenho da Bolsa brasileira. O governo, ele diz, manteve o sinal de que pretende continuar aumentando gastos nos últimos meses, o que fortalece a desconfiança do mercado.

"O Brasil acabou ficando para trás nas disputas pelos recursos, seja por interferência governamental nas empresas, seja por desorientações no plano econômico", afirma.

Hoje, a recuperação do Ibovespa foi praticamente toda devida à Petrobras. As ações da empresa pegaram carona na elevação dos preços do petróleo, entre 2,23% (WTI) e 1,86% (Brent), que também puxou outras petroleiras, como Prio (ON +3,53%). Dos 87 papéis na carteira teórica, só 42 subiram.

Marfrig ON (+12,80%) teve a maior alta nominal na sessão, após divulgar balanço bem recebido pelo mercado, e Casas Bahia ON (+7,96%) ficou em segundo, em recuperação. Completam a lista das maiores altas Lojas Renner ON (+3,92%) e São Martinho ON (+3,78%).

Na ponta negativa do índice, Azul ON caiu 7,65%, apesar de um balanço considerado positivo. Na sequência, aparecem CVC ON (-4,29%), Braskem PNA (-3,72%) e LWSA ON (-2,83%).

Moliterno, da Veedha, diz que a oscilação contida do índice hoje - entre a mínima de 127.270,19 (-0,33%) e a máxima de 128.363,98 (+0,53%) - ainda reflete a cautela de fim de trimestre e a expectativa por dois acontecimentos amanhã: a divulgação do PCE americano, medida de inflação preferida do Fed, e uma coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell. O giro financeiro do dia ficou em R$ 21 bilhões.

Dólar

O dólar à vista voltou a superar o nível técnico de R$ 5,00 nesta quinta-feira, 28, dia marcado por nova onda de fortalecimento da moeda americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes. À espera de dados de inflação nos EUA e discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, amanhã, quando os mercados estarão fechados em razão do feriado da Paixão de Cristo, investidores adotaram uma postura cautelosa.

A divisa abriu em alta e superou a barreira psicológica dos R$ 5,00 ainda pela manhã, em meio à alta dos Treasuries curtos, mais ligados às expectativas em torno da condução da política monetária americana. Investidores assimilaram a fala dura do diretor do Fed Christopher Waller ontem à noite e o avanço de 3,4% na leitura final do PIB dos EUA no quarto trimestre de 2023, levemente acima das expectativas (3,3%).

Com máxima a R$ 5,1079 na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,0154. Operadores observam que, como é típico de fim de mês, os negócios foram muito influenciados pela rolagem de posições no segmento futuro e pela disputa em torno do fechamento da última taxa ptax do mês. O dólar termina março com ganhos de 0,86%, o que leva a valorização acumulada no primeiro trimestre a 3,34%. A divisa havia encerrado 2023 em baixa de 8,08%

Apesar de ruídos políticos locais, como o imbróglio envolvendo a retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras, analistas observam que o principal indutor da depreciação do real foi à valorização global da moeda americana. Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY também acumulou valorização de pouco mais de 3% no primeiro trimestre.

A moeda americana também avançou na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Uma das poucas moedas que se destacaram foi o peso mexicano, com ganhos de cerca de 2% em relação ao dólar no trimestre. Principal par do real, a divisa mexicana se beneficia da postura mais conservadora do Banxico, o último grande banco central da região a embarcar em um ciclo de cortes da taxa básica, com redução de 0,25 ponto porcentual, para 11% ao ano, neste mês.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que a formação da taxa de câmbio tem sido dominada pelo comportamento da moeda americana no exterior. Não se trata de falar de fraqueza do real no primeiro trimestre, mas de fortalecimento global do dólar. "A economia americana está crescendo mais e tem taxa de juros atrativa. É uma história de dólar forte no mundo, e não de riscos idiossincráticos domésticos", afirma Lima.

Analistas atribuem o fortalecimento global do dólar no primeiro trimestre ao rearranjo das apostas em torno do corte inicial de juros nos EUA e da magnitude de alívio monetário esperado para este ano. No fim de 2023, a projeção era de início de redução em março e corte total de 150 pontos-base em 2024. Dados fortes de atividade e inflação deslocaram as estimativas para o primeiro corte para junho, com alívio total de 75 pontos-base.

Para Lima, da Western, assim que o Fed começar a cortar os juros, é possível que haja um movimento de apreciação do real, com a taxa de câmbio voltando para perto de R$ 4,80, apesar do quadro de preços de commodities mais baixos. "O real deve se recuperar assim que houver mais certeza sobre a trajetória dos juros americanos", afirma o economista.

Em apresentação hoje do Relatório Trimestral de Inflação, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o diferencial de juros entre Brasil e EUA segue elevado e que, portanto, não traz preocupação para a trajetória da taxa de câmbio. O presidente do BC também observou que as contas externas seguem bastante sólidas, com os superávits comerciais superando os US$ 80 bilhões.

À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total no ano (até 22 de março) é positivo em US$ 5,335 bilhões, com entrada líquida de R$ 11,697 bilhões via comércio exterior mais do que compensando as saídas líquidas de US$ 6,362 bilhões na conta de capital.

Juros

O mercado de juros termina a semana com viés de alta em toda a estrutura, embora o movimento seja comportado frente ao visto no câmbio e nos Treasuries hoje. A percepção de analistas é de que as taxas já haviam incorporado nos últimos dias um cenário mais conservador e que, assim, os recados nesse sentido dos indicadores do mercado de trabalho e do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) já não tinham mais espaço para ressoar nos preços. No mês e no trimestre, a curva ganhou inclinação, sob influência do comportamento dos Treasuries.

O DI para janeiro de 2025 subiu de 9,907% no ajuste de ontem para 9,920%. O janeiro 2026 saía de 9,891% para 9,900%. O janeiro 2027 passava de 10,142% para 10,160%. E o janeiro 2029 avançava de 10,638% para 10,670%.

O dia foi bastante movimento no front ao qual a curva de juros é sensível, embora sem grandes novidades. No RTI, o Banco Central avançou pouco em relação ao que já havia tratado no comunicado e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), reforçando relativa cautela da autoridade e o cenário-base já estabelecido.

Assim, a expectativa se deslocou para a entrevista com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen. Também, mais uma vez, o tom foi de reforço das mensagens recentes.

Campos Neto destacou que o que o BC entendia sobre a Selic terminal não mudou de forma substantiva e que o debate de diretores sobre a redução do corte da taxa não é especificamente sobre junho.

Já Guillen ressaltou que alguns membros - ao menos dois - entendem que os ganhos salariais estão associados a um mercado de trabalho apertado.

Ontem, o Caged mostrou geração líquida de 306 mil postos de trabalho em fevereiro. Hoje, a Pnad Contínua apontou que a taxa de desocupação de 7,8% registrada no trimestre terminado em fevereiro de 2024 foi o menor resultado para esse período do ano desde 2015, quando ficou em 7,5%.

Agentes do mercado viram, hoje, alguma tendência em ficarem mais conservadores por causa do front externo amanhã. Apesar de não haver negócios nem aqui nem nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa e o Departamento do Comércio informa a inflação ao consumidor medida pelo PCE.

A cautela tem a sua dose de razão. Em março e no primeiro trimestre, a curva de juros ganhou inclinação por causa das oscilações dos Treasuries - e de renovadas dúvidas sobre quando se dará o início do ciclo de cortes de juros pelos Estados Unidos. O diferencial entre as taxas de janeiro de 2029 e janeiro de 2025, uma medida de inclinação, passou de 5,6 pontos-base na virada do ano para 75,0 pontos-base agora. No mês, subiu 30 pontos.


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