De olho em gastos para socorro ao RS, Ibovespa fecha em baixa de 0,03%; dólar tem leve alta

Por Agência Estado 06/05/2024 - 18:15

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Dúvidas em relação ao impacto fiscal da ajuda federal ao Rio Grande do Sul, em meio aos efeitos de inundação sem precedente no Estado e na capital, Porto Alegre, neutralizaram os ganhos do Ibovespa ao longo da tarde, distanciando o índice da B3 do avanço observado em Nova York nesta abertura de semana. Aqui, a alta moderada deu lugar a leve perda de 0,03% no fechamento, aos 128.465,69 pontos, enquanto os ganhos em NY chegaram a 1,19% (Nasdaq) no fim do dia. O giro na B3 ficou restrito a R$ 18,4 bilhões nesta segunda-feira, após ter mostrado recuperação na sessão anterior, perto então da casa de R$ 28 bilhões.

Nas três primeiras sessões de maio, o Ibovespa acumula alta de 2,02%, que limita a perda do ano a 4,26%. Na ponta do índice nesta segunda-feira, destaque para Petz (+4,11%), Pão de Açúcar (+2,65%) e SLC Agrícola (+1,53%). No lado oposto, Braskem (-14,53%), Marfrig (-4,92%) e Minerva (-3,69%).

O dia foi majoritariamente positivo para as principais ações do Ibovespa, à exceção de Bradesco (ON -1,36%, PN -0,07%) e de alguns nomes do setor metálico, como Gerdau (PN -0,10%) e CSN (ON -0,21%). Vale (ON) subiu 0,30% e Petrobras mostrou alta de 0,50% (ON) e de 0,68% (PN) no fechamento. Entre os grandes bancos, Itaú (PN +0,62%) e BB (ON +0,57%) também tiveram ganhos na sessão.

"Dia de agenda esvaziada no exterior, e cautela para a decisão do Copom sobre a Selic, na quarta-feira, com dúvida se o corte será de meio ponto porcentual, como nas reuniões anteriores, ou se será de apenas 0,25 ponto dessa vez, como pareceu sinalizar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, nas últimas semanas. Sem muita referência para os negócios nesta segunda-feira, e diante da cautela para o Copom, o investidor evita montar posição", diz Gabriel Pereira, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.

No meio da tarde, enquanto o Ibovespa perdia força e convergia para o zero a zero na sessão, a curva de rendimentos do DI acentuou alta, nas máximas do dia entre os contratos de curto e médio prazo, reporta o jornalista Gustavo Nicoletta, do Broadcast, após a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmar no Facebook que o governo está trabalhando para "mobilizar ajuda efetiva e tempestiva" ao Rio Grande do Sul.

A ministra disse também que "será proposta medida, sem necessidade de mudança constitucional ou legal, para que as ações necessárias sejam compatíveis com regras fiscais vigentes e continuem a permitir atendimento imediato aos gaúchos". A declaração reforçou a preocupação do mercado com aumento nas despesas públicas em momento de pouco espaço no orçamento para o cumprimento da meta de resultado primário.

"A dívida bruta do Brasil está em 75% do PIB, conforme dados divulgados nesta manhã. O nível de endividamento é alarmante por si só, tendo em vista que o Brasil é um país emergente, com taxa de juros e custo de dívida ainda alto. Dívida nesse patamar de 75%, 80% do PIB, traz desconfiança para o investidor estrangeiro, quanto à capacidade de pagamento e manutenção da liquidez. É uma bandeira amarela hasteada já há algum tempo", diz Pedro Lang, economista e sócio da Valor Investimentos.

Ele acrescenta que a trajetória da dívida - ainda mais importante para a precificação de mercado - reflete baixo compromisso do País com a estabilidade fiscal e até mesmo "leniência" com o nível de endividamento público. "O componente fiscal tende a permanecer nos próximos anos como impulsionador da economia, após as recentes revisões das metas oficiais para as contas públicas", observa o economista, destacando que a política monetária tem se movimentado gradualmente para condições menos restritivas.

De qualquer forma, a "foto" melhora quando se leva em conta que 90% da dívida está em mãos de credores domésticos, com perfil de vencimento mais concentrado no médio e longo prazo, e o País ainda conta com volume elevado de reservas externas, ressalva Lang.

"Os gastos públicos têm crescido acima da inflação, com reflexo para o endividamento bruto, que deve ficar acima de 77% do PIB. Essa dinâmica tende a se manter, sem ajuste pelo lado dos gastos, mesmo com o aumento das receitas materializado por iniciativas tomadas desde 2023", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Dólar

Em pregão marcado por instabilidade e trocas de sinais, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 5,0741, em alta de 0,08%. Segundo operadores, o dia foi de acomodação e ajustes moderados de posições, depois de a moeda ter recuado 2,36% nos dois últimos pregões, diante da perspectiva de corte de juros nos EUA neste ano. Apesar da queda firme do dólar em relação a divisas pares do real, em especial as latino-americanas, a moeda brasileira exibiu fôlego reduzido em razão do aumento das incertezas do quadro doméstico.

Investidores ainda ponderam os possíveis desdobramentos econômicos provocados pela tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, como aumento de gastos públicos e pressões adicionais sobre a inflação no curto prazo. Há também pouco apetite por apostas mais contundentes em meio à espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nesta quarta-feira, 8.

O ambiente de cautela se traduz em liquidez reduzida e oscilações modestas. Houve variação de pouco mais de três centavos entre a máxima (R$ 5,0918), pela manhã, e a mínima (R$ 5,0608), à tarde. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve giro fraco mesmo para uma segunda-feira, abaixo de US$ 10 bilhões.

"Já existe a preocupação nas mesas de operação com o impacto da catástrofe do Rio Grande do Sul na economia, especialmente no agronegócio. Estão discutindo no Congresso a liberação de recursos para ajudar na recuperação do Estado", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo. "A questão é que não se sabe qual será o impacto nas contas públicas e por, consequência, no equilíbrio fiscal. Isso tende a deixar o mercado na defensiva".

Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que o governo quer socorrer o Rio Grande do Sul, mas sem ter de colocar em risco a área fiscal. Ao que tudo indica, o que deve ocorrer é a permissão de créditos extraordinários que serão controlados na partida e fiscalizados posteriormente. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou em suas redes sociais que não será necessário mudar a Constituição ou leis para que a União socorra o Rio Grande do Sul.

À tarde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sugeriu a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) no formato adotado durante a pandemia da Covid-19 para liberar recursos ao Rio Grande do Sul. Na mesma linha, a Executiva Nacional do PT publicou uma nota em que manifesta apoio à aprovação de PEC nos moldes da pandemia, quando houve o chamado "orçamento de guerra".

O presidente Lua anunciou no fim da tarde que vai editar um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) prevendo recursos para ajudar na recuperação do Rio Grande do Sul. O mecanismo dá respaldo para que a liberação posterior dos créditos extraordinários seja feita fora da meta de resultado primário.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em ligeira alta, em razão das perdas do iene. Euro e libra apresentaram leves ganhos na comparação com a moeda americana. Com a valorização das commodities, em especial do minério de ferro, e o sinal predominante de baixa das taxas das Treasuries, a maioria das divisas emergentes se valorizou, mas reduziu os ganhos no fim do dia.

"O payroll de sexta animou o mercado e se somou a melhora da perspectiva do rating do Brasil. Isso trouxe o dólar para baixo e deve fazer a taxa flutuar entre R$ 5,05 e R$ 5,10", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, em referência ao relatório de emprego nos EUA e ao fato de a agência de classificação de risco Moody's ter alterado a perspectiva do rating do Brasil (Ba2) de estável para positiva. "Temos um cenário doméstico ainda nebuloso, mas houve uma melhora externa na semana passada que pode ajudar o real".

Juros

Faltando poucos dias para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o aumento nas expectativas de inflação e o receio com os potenciais efeitos econômicos das enchentes no Rio Grande do Sul deram vida própria ao mercado de juros futuros doméstico, com os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) projetando aumento das taxas desde a abertura, descolados dos mercados de Treasuries durante boa parte do pregão.

O primeiro impulso aos juros veio do aumento da previsão de inflação para 2025 no Boletim Focus - a estimativa passou de 3,60% para 3,64%. Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, ressalta que a mudança tem peso porque afeta o horizonte relevante do Copom.

"Parece que essa alta no Focus coloca o Banco Central mais propenso para cortar os juros em 0,25 ponto porcentual, e não em 0,50 ponto. Mercado está precificando 0,29 ponto, então há uma aposta majoritária de corte de 0,25, mas tem ali também muitos analistas que acham que o BC pode voltar a cortar 0,50", afirmou.

O avanço das taxas ganhou força no decorrer da sessão, conforme economistas e instituições financeiras atualizavam as estimativas para a inflação. Várias casas aumentaram entre 0,1 e 0,2 ponto porcentual as projeções para a alta do IPCA em 2024, citando os potenciais impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a produção e os preços de alguns alimentos - arroz, em particular.

A incerteza em relação ao tamanho e ao formato da ajuda financeira que o governo entregará ao Rio Grande do Sul também deixou os investidores apreensivos. "A gente tem um problema fiscal muito grande aqui e os investidores acabam especulando o quanto de dinheiro o governo vai precisar investir. É lógico que isso precisa ser resolvido o mais rápido possível, mas isso tudo acaba refletindo um pouco na nossa curva de juros", afirmou Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

Gustavo Faria, gestor de recursos do Grupo Fractal, também acredita que o impacto no cenário fiscal dependerá essencialmente da magnitude dos gastos do governo, e não do formato usado para a distribuição dos recursos. "Ainda não é possível estimar o quanto vai custar para os cofres públicos. É um evento que ainda está acontecendo", acrescentou.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 subiu a 10,230%, de 10,146% no ajuste de sexta-feira. A taxa para janeiro de 2026 avançou a 10,450%, de 10,320% no ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 teve alta a 10,765%, de 10,624%. A taxa para janeiro de 2029 subiu a 11,270%, de 11,140%.


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