colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Marcas de uma vida

19/05/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


A velhice chegou! É hora de analisar o que fizemos em oitenta e três anos. Quais as pessoas que nos marcaram. O que perdemos. O que ganhamos. A infância foi feliz, na casa de duas pessoas que se amaram e viveram para seus filhos. Um pai sábio, pobre, que conseguiu estudar, de favor, numa escola particular de Penedo, nas Alagoas. Uma mãe infantil, mas apaixonada pelo marido. Para ela, o João era perfeito. Não adiantava criticá-lo; ela não acreditava. Fazia tudo que o marido mandava, sem procurar explicação.

Os oito filhos foram criados como classe média num lar farto e educados em bons colégios. Os quatro primeiros sofreram um pouco, mas não podem reclamar das atenções dos pais. Os mais novos tiveram uma vida melhor, pois os pais estavam mais maduros e com boa renda, pois o chefe da família, apesar de só ter o curso primário, chegou, através de concurso público, a ser auditor fiscal do INSS.

Os filhos foram crescendo, fazendo suas escolhas, casando, tendo filhos e a família aumentando. Os mais novos estudaram em colégios particulares e viraram professores universitários, médicos, administradores. A grande figura paterna marcou a vida dos filhos. Seus conselhos perduram até o momento atual. Tinha uma imaginação fértil e previa acontecimentos importantes que poderiam se concretizar no futuro.

Afirmo, sem medo de errar: meu pai foi meu guru, meu amigo, meu conselheiro. Ainda hoje me recordo de nossas longas conversas. Foi um homem que sobreviveu à morte e, ainda hoje, lá de cima, cuida de todos nós. No seu enterro, fui procurada por várias pessoas ajudadas por ele. Do mendigo ao advogado sempre conseguia defendê-los.

A mãe foi menos marcante, mas cuidou dos oito rebentos com carinho e algumas preferências. Nunca negou gostar mais de Fulano ou de Sicrana. Entretanto, o grande amor de sua vida foi o João. Havia um tio, José, irmão de meu pai, que também foi um bom homem. Generoso, afável, ia visitar-nos todos os domingos, na velha casa da Fernandes Lima, no Farol. Dele só temos boas lembranças.

Ambos morreram muito cedo, mas plantaram belas sementes no coração das suas crianças. O avô paterno, Sabino Romariz, poeta penedense, morreu também muito cedo, deixando dois órfãos de nove meses e dois anos. A inteligência da família e a tendência para a poesia e a prosa vieram dele.

A família cresceu e se dispersou. Alguns foram morar fora do estado, mas todos criaram seus filhos tomando por base a educação recebida dos pais. A geração mais nova também fez suas escolhas profissionais. Podemos afirmar que os Romarizes são médicos, militares, arquitetos, advogados, mestres em computação, psicólogos, dentistas, empresários, pessoas boas, educadas e gentis.

A família, no momento atual, é muito grande! Já existem os agregados que se juntaram a nós. Durante todos esses anos, alguns não se entrosaram na filosofia dos Romarizes. Todos, no entanto, são pessoas dignas de respeito. São tios e tias de nossos filhos e sobrinhos. A eles nosso amor e profunda gratidão. Que sejam bem felizes.

Dentro e fora do Brasil sempre se encontra um ou uma Romariz que veio de José ou de João. Sempre sinto neles uma honra muito grande por pertencer a uma família que teve uma boa base. Não sei se a união plantada pelos velhos é levada a sério, mas sei que uns pensam nos outros, na doença e na saúde. O sangue fala mais alto e outras gerações estão vindo por aí. Elas saberão da força que tem o nome Romariz. Sempre que colocamos a cabeça no travesseiro, pensamos em todos eles, rezamos pelos doentes, torcemos pelos que estão felizes. E viva o velho João Romariz! Deus existe. Não duvidem.banner

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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