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CPI do INSS enfrenta impasse e perde protagonismo em meio à guerra política

Comissão comandada por Alfredo Gaspar divide atenções com CPI do Crime Organizado
Por Redação 07/11/2025 - 05:59
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Assessoria
O deputado Alfredo Gaspar (União-AL)
O deputado Alfredo Gaspar (União-AL)

Criada há quase três meses sob a liderança da bancada de oposição, a CPI do INSS, presidida pelo deputado Carlos Viana (Podemos-MG) e relatada por Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), enfrenta um impasse político que ameaça sua relevância. A comissão, instalada para investigar descontos ilegais em aposentadorias e pensões, passou a “pisar em ovos”, segundo o Estadão, por envolver aliados de governos distintos — de Michel Temer a Jair Bolsonaro — e até nomes ligados ao atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A chegada da CPI do Crime Organizado no Senado, instalada nesta semana, deve dividir holofotes e enfraquecer ainda mais a atenção pública sobre as investigações previdenciárias. A nova comissão, com foco em facções criminosas e segurança pública, tende a dominar o debate nacional até as eleições de 2026. Desde sua criação, a CPI do INSS não conseguiu cumprir a expectativa de se tornar um “rolo compressor” contra o governo. 

A base aliada de Lula tem bloqueado requerimentos sensíveis, enquanto a oposição tenta direcionar as apurações contra figuras próximas ao Planalto. Na reunião de 9 de outubro, por exemplo, foram derrubados pedidos de convocação de Frei Chico, irmão do presidente, e de quebra de sigilo do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi. O relator Alfredo Gaspar nega esvaziamento e defende a continuidade dos trabalhos. “São temas distintos, mas ambos fundamentais para o país. Nosso objetivo é obter resultados concretos, responsabilizar os envolvidos, recuperar recursos desviados e aprimorar a proteção legal dos aposentados e pensionistas”, afirmou.

Nos bastidores, porém, há frustração entre os integrantes da comissão. A base governista trava avanços que possam atingir o PT, enquanto o Centrão evita investigações que respinguem em seus próprios quadros. Relatórios da Polícia Federal mencionam nomes próximos aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o que elevou o clima de cautela entre os parlamentares.

As irregularidades investigadas remontam a 2016, atravessando quatro governos. Documentos apontam que denúncias sobre descontos ilegais chegaram ainda aos ministros Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) durante a gestão Bolsonaro, sem providências. O senador Rogério Marinho (PL-RN) e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL-RS) também são citados em contratos suspeitos de associações com o INSS.

Para o vice-presidente da CPI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), a polarização entre governistas e bolsonaristas paralisa a investigação. “Há advogados de defesa e de acusação dos dois governos. Precisamos de imparcialidade para punir quem cometeu crimes e devolver direitos a quem foi lesado”, disse. Com investigações travadas, apurações sobre entidades como a Contag e o Sindnapi — ligado ao irmão de Lula — paralisadas e o depoimento do ex-ministro Onyx ainda sem data definida, a CPI do INSS enfrenta dificuldades para apresentar resultados concretos.

O Estadão avalia que o esforço político se diluiu em autoproteção partidária. O que começou como uma promessa de apuração ampla e rigorosa acabou transformado em palco de disputas e barganhas. O resultado, por ora, é uma comissão dividida, incapaz de apontar culpados e cada vez mais ofuscada por outras pautas de maior impacto público no Congresso.


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