Saudades do Gasparzinho
Deus levou para o céu um grande amigo. Eu o chamava carinhosamente de Gasparzinho, o fantasminha camarada. Vi poucas pessoas boas como a figura de que falo. Não tinha maldades, não jogava dirigentes contra servidores. Sempre tinha uma palavra amiga para pequenos e grandes.
Exerceu o cargo de diretor de pessoal da Casa de Tavares Bastos. Era bastante procurado e não deixava de atender desde o pequeno servidor até o presidente do Poder. Quando não podia resolver o caso, era sincero e afirmava: “Amigo, não depende de mim.” E dava o caminho das pedras.
Como primeiro secretário da Casa, tivemos outro bom homem, que nos ajudou a socorrer vários companheiros. Era outro fantasminha camarada. Era médico e estava sempre à disposição de todos. E, se precisássemos dele, era muito fácil o acesso. “Amigo”, dizia eu, “temos um colega que está doente e não pode pagar plano de saúde. Pode ajudar?” E ele estendia a mão, ligava para os hospitais e socorria a criatura.
As pessoas que exercem cargos públicos, com certa importância, precisam ter um bom coração e ser humildes. Devem entender que, na vida, tudo passa e amanhã voltarão a ser pessoas normais. Lembro-me de que, quando era presidente do velho sindicato, fui procurada por uma viúva. “Dona Alari”, disse-me ela, “vou perder minha única casa. Meu marido morreu e um determinado hospital quer tomar a casa dos meus filhos.” O sindicato procurou um advogado, que era companheiro nosso, e defendeu a pobre viúva, que não perdeu a residência.
Hoje, para falar com um diretor da Casa, é uma novela. Primeiro, ele só vem quando quer e não pensa em ajudar ninguém. “Ele é ele e procure outro.” Mas a vida tem momentos bons e momentos ruins. Ainda existem fantasmas bons que pensam em ajudar o próximo. Quem já ouviu falar no Tio Patinhas? É um homem rico que não pensa em ajudar seus sobrinhos. Pois, na Casa de Tavares Bastos, existe tal figura. É um homem cheio de poder, que só divide algo com pessoas que lhe são úteis. Controla tais pessoas e não sai do poder.
Entretanto, se os mais humildes precisarem dele, não encontram apoio. Vive cercado de seguranças, anda em carros caros e não tira um momento para ajudar os servidores. Sempre que é procurado, o Tio Patinhas grita: “Judicializem!”. Casos pequenos que poderiam ser resolvidos internamente vão à Justiça, e a pobre criatura espera dez, vinte anos pela solução. E o Tio Patinhas vai ficando rico, pisando nos pobres.
Quando me lembro do tempo em que convivíamos com fantasminhas camaradas, até choro. Hoje vejo uma Casa cheia de figuras pedantes e vaidosas, que parecem o Coringa, inimigo do Batman. Vivem perseguindo pessoas, funcionários, cortam salários e ainda zombam dos pobres servidores. “Vá ao presidente”, disse-me um Coringa, “ele está às terças e quintas.” E riu. Foi ele que cortou meu salário durante dois anos e cinco meses. Mas o Batman vem aí para derrotar o Coringa.
Daí porque me lembro dos fantasminhas camaradas, pessoas boas, com coração leve, sem maldades. Alguns já morreram, mas deixaram lembranças positivas. Os Coringas que nos fazem sofrer vão ser castigados. Quando saírem dos cargos e voltarem a ser pessoas normais e estiverem do outro lado, vão ter a lição que merecem. Meu amigo Gasparzinho, você só plantou o bem. Deve estar no céu. Lembre-se de nós e castigue os Coringas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA



