colunista

Alari Romariz

Atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Partícula de realce

01/11/2025 - 06:00
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Quando crianças, os pais atendem os filhos antes de qualquer coisa. Prioridade um. Adolescentes, pensamos que podemos tudo! Lembro-me de um general que afirmou: “Quero ser a metade do que um cadete pensa que é”. Normalmente, um cadete é adolescente. O tempo passa! Os filhos vão casando, formando suas famílias. E os pais vão perdendo a importância. Viram prioridade dois. Alguns moram longe e não têm tempo para visitar os pais, que ainda não são velhos. Agora, a responsabilidade com as crianças é bem maior. Recordo-me que, nos meus 60 anos, uma filha teve que pagar a passagem de um irmão para ele vir à festa. Proibi que ela repetisse o fato.

Chega a fase dos 70 anos. A vida vai andando. Os filhos viram avós, os velhos viram bisavós. Tudo muda! O tempo de ver os pais vai encurtando. Se os idosos forem lúcidos e puderem viajar, vão ao encontro dos rebentos. Caso não possam, ficam em casa, esperando visitas. Aí, os velhos adoecem, vão ao hospital. Os filhos correm para socorrer os pais. Outros não têm tempo, apenas telefonam. Mas, como Deus é pai, os idosos sobrevivem, voltam a viver numa boa casa, perto do mar. A renda mensal é satisfatória e o casal vive bem, não aperreia os filhos. Vai vivendo como Deus quer, sonhando com os filhos, netos e bisnetos, que vivem fora.

Assustadoramente, o velho casal chega aos 80. Lúcido, cheio de médicos, remédios, hospital. Tudo vai ficando mais difícil. O avô, eufórico, resolve fazer uma festa de 85 anos. Liga para sobrinho, filhos, filhas e netos convidando todos. Alguns pensam que ele está doente. Por que tanta euforia? Ele quer festejar o quê? Sobrinhos, netos, filhos se assustam com a alegria do oitentão. Não entendem os mais jovens que ele quer celebrar a vida. Poucos chegam tão longe!

A festa está chegando! O aniversariante virou menino. Está feliz! Vez em quando, alguém liga: “Não vou poder ir, estou muito ocupada”. Outra nem liga, o tempo é pouco para o TCC. O afilhado avisa: “Vô, estou chegando!”. E o avô sobrevive entre alegrias e tristezas. Diz ele à companheira de 62 anos: “Festejaremos com os que vierem. Os outros vão perder o caruru da vó Alari”.

Entendemos, então, que agora somos prioridade três. Há coisas mais importantes do que prestigiar os avós que não perderam batizados, primeira comunhão, 15 anos, casamento, doenças, proporcionaram férias maravilhosas a todos eles. Tudo esquecido! Hoje são dois velhos fora de moda. Depois ninguém entende porque alguns são mais queridos, mais atenciosos.

Um desses dias, uma amiga ouviu um neto ligar: “Vozinha, a senhora e o vovô estão bem?” Ela, a amiga, ficou emocionada. Então, chegamos à conclusão de que os avós viraram partícula de realce, viramos prioridade quatro para alguns. Não podemos deixar de falar naqueles que nos apoiam. Uma filha que praticamente deixou seus filhos e veio cuidar dos pais. Eles, os velhinhos, viraram prioridade um. Do neto que virou a sombra do avô, para onde um vai, o outro acompanha. Da filha que liga todos os dias para saber da saúde de seus pais. São a alegria do velho casal.

Apesar dos pesares, vamos festejar os 85 anos do Velho Coronel, o que criou quatro filhos dando a eles sempre a prioridade um. Que Deus nos ajude nos últimos anos de vida! Apesar da perda do João, um dos filhos, tentamos ser felizes. Feliz Aniversário, Rubião!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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