colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Voltei, Velho Chico!

09/06/2024 - 06:00

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Estou de novo olhando para o Rio São Francisco, em Petrolina. Mil lembranças vêm à minha cabeça. Desde criança convivo com o rio querido na cidade de Penedo.

Íamos de férias para a casa de meus avós maternos e de lá pegávamos o navio, na segunda-feira, para irmos até Piranhas. Na viagem, notei pela primeira vez as diferenças das classes sociais: na parte baixa da embarcação iam os mais pobres, que dormiam em redes. Na parte alta, havia os camarotes e os de melhores condições se acomodavam neles, com mais conforto.

Eu e meus três irmãos mais velhos éramos privilegiados, netos do imediato Pacífico Lopes. Uma verdadeira festa: comíamos guloseimas nas cidades onde o navio parava, corríamos para cima e para baixo, observando as diferenças sociais, apesar de não entendermos o porquê de tanta separação. Ouvíamos falar de histórias de Lampião e Maria Bonita, que assaltaram o navio, pouco antes do nosso tempo.

Na quinta-feira voltávamos a Penedo, para curtir o resto das férias. Sábado era dia de feira. Comíamos mungunzá e tapioca da velha Júlia. Negra dócil e carinhosa, outrora empregada de minha avó.

Desde a minha infância já se falava na ponte Penedo-Neópolis. Os políticos eram consultados e nunca resolviam nada. De repente, começaram a construir a de Colégio-Propriá e os penedenses ficaram decepcionados. A cidade sofreu muito, pois o movimento diminuiu; entretanto continuou sendo feito pelas balsas. Um sonho perdido!

Penedo foi uma cidade grande que fez poucos deputados. Arapiraca elegeu sempre mais parlamentares. Conheci alguns políticos penedenses, mas o mais próximo de nossa família foi Bonifácio Bezerra, grande amigo de meu pai. Dono do cartório por muitos anos, professor primário de origem, apaixonado pelo Velho Chico, foi eleito deputado estadual nos fins dos anos 50.

As famílias de meus pais eram penedenses e nos ensinaram a amar o Rio São Francisco e a comer seus peixes. O melhor deles era o surubim, que ainda sobrevive em Petrolina. Já planejamos comê-lo num restaurante da cidade.

Outra iguaria famosa é o jacaré. Aprendi com minha mãe a preparar um bom prato dele. Quem não é da terra, estranha quando falamos na tal comida, vulgarmente chamada de “bacalhau penedense”.

A procissão do Bom Jesus dos Navegantes é outro fato marcante na alagoana cidade banhada pelo Velho Chico. Nos dias da festa, no mês de janeiro, Penedo fica cheia de gente. No cortejo a embarcação maior conduz o santo pelas águas do rio, seguida de muitas outras todas enfeitadas. As cerimônias religiosas se sucedem. Nesta época, tudo é alegria nas cidades por onde o rio querido passa.

A novidade de 2024 é o início da construção da ponte Penedo-Neópolis. A realização de tal sonho se deve ao empenho de políticos alagoanos junto ao governo federal. O prefeito Ronaldo Lopes merece elogios por ter lembrado, acompanhado e se empenhado no processo.

O centenário Teatro Sete de Setembro foi restaurado e reinaugurado. Lá se apresentam artistas locais e outros vindos de fora. As belas e antigas igrejas atraem os turistas; a mais famosa é a do Convento de São Francisco, com o altar-mor folheado a ouro.

Vale a pena visitar Penedo e ver o rio correndo sereno em sua frente. Apesar de maltratado, apresenta um bonito cenário e ninguém por lá passa sem parar e agradecer a Deus tanta beleza natural.

Em Petrolina é diferente. Os peixes têm outros nomes, o vento assobia no vale, o clima é mais frio no inverno, mas o cheiro das águas é o mesmo e o canto delas é idêntico.

Por onde o brasileiro anda e vê o Velho Chico, a sensação é a mesma: amor, só amor!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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