colunista

Alari Romariz

Atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

O dom difícil do perdão

12/07/2025 - 06:00
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Quando eu era pequena e brigava com um dos meus irmãos, meu pai chamava os dois que estavam intrigados para fazerem as pazes. No fim, abraçados, eram obrigados a esquecer o motivo da briga.
Na adolescência, foi ficando mais difícil chamar o irmão, pedir perdão ou perdoar. Adultos, então, voltar a falar com o irmão tornou-se dificílimo. Muitas vezes, ficávamos um bom tempo com raiva.

Na vida cotidiana, nesse caso, os problemas surgiam dentro ou fora da família e a solução demorava a chegar. Com a entrada dos agregados, genros e noras, convivência com novas famílias, tudo ficou pior. Eram pessoas diferentes, de hábitos distintos, que entravam na família Romariz. Uns eram boas pessoas que procuravam adaptar-se ao novo ambiente. Outros vinham com más intenções e discordavam de tudo.

Meu primeiro choque de convivência foi no grupo escolar. Eu tinha 9 anos e uma amiga mais velha guardou um lugar na frente da sala para mim. Tempos depois, brigamos e ela me tirou da carteira. Fiquei com raiva dela por muito tempo. Anos depois, já casadas, encontramo-nos, conversamos e não falamos mais no assunto.
No trabalho, por viver sempre mudando de cidades e ser casada com militar, sofri muito. Alguns colegas pensavam que eu estava chegando para tomar o lugar de alguém. Entretanto, fiz boas amizades por onde passei. Deixei alguns inimigos, principalmente na época da Revolução de 1964. Os dois lados não se entendiam e parentes de militares não eram aceitos.

Voltei para a Assembleia Legislativa já com três filhos. Encontrei grandes amigas, mas a maioria dos companheiros achava que eram denunciados por mim. Eu, mãe de três filhos, não tinha tempo de pensar em política. Época difícil onde o perdão inexistia.

Com a chegada da Constituição de 1989, comecei a fazer política. Aí é que apareceram inimigos! Havia na Assembleia uma forte oposição e as Mesas Diretoras não aceitavam as novas atitudes dos servidores. Sofri um bocado, perdi amigos, ganhei novas amizades, mas não pedi perdão, nem fui perdoada. Ainda hoje vejo pessoas me olharem com cara feia. Não sei por que!

Passei nove anos como vice-presidente e presidente do “Velho Sindicato”. Por mais que tentasse ajudar, alguns companheiros ficavam insatisfeitos e não gostavam de mim. Em 2025 encontro colegas que me olham com raiva. Quero lembrar se lhes fiz algum mal e não me recordo.

Continuo lutando pelo “Velho Sindicato”, me engajo de corpo e alma nas eleições sindicais. Mais uma vez, faço amigos e perco outros. Recebo apelidos, ouço músicas maldosas, mas ganho os pleitos. Aí é que não vem o perdão de alguns.

Na família o problema é maior. As divergências são grandes. Uns se afastam dos outros. Todos querem ter razão! O tempo vai passando, a convivência termina e grandes amigas de ontem transformam-se em inimigas de hoje. Quem tem razão? Só Deus sabe!

Umas dizem: “Você expôs a família”. Eu acho que fui traída. O velho Romariz, lá do céu, vê a família destruída.

Pedir perdão é difícil! Ser perdoada, nem pensar. Procuro viver com quem me entende, mas sinto falta dos outros.

Vejo a missa diariamente na TV. Vou à igreja aos domingos. Ouço mensagens sobre o perdão e não consigo perdoar ninguém. Procuro conversar com meu velho pai, mas não escuto respostas.
Minha pequena família é feliz. Filhos, netos e bisnetos nos respeitam e nos apoiam.

Contudo, tenho pena dos que se afastaram sem ter motivo, só por adesão. São uns tolos. Os que ficaram são sabidos.
Vamos levando a vida, com amigos e parentes que não se afastaram de nós. Para os outros: um forte abraço. Sem perdão!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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