colunista

Alari Romariz

Atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Basta acreditar

17/05/2025 - 06:00
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Desde menina ouvia os mais velhos falarem de socialismo. Diziam eles que o Estado tinha o papel de proteger o cidadão.

Vivi na época de Getúlio Vargas quando foram criadas medidas protetoras e o velho político era preocupado com o bem estar da população.

Em Alagoas, existiam dezenas de comunistas e idealistas, que eram presos periodicamente, pois o Partido Comunista Brasileiro não era reconhecido. Dentre eles havia relojoeiros, alfaiates, torneiros mecânicos, comerciantes, operários, trabalhadores de um modo geral.

De vez em quando, surgiam notícias: “Fulano foi preso!” A família ficava desamparada, mas eles acreditavam na causa e saíam de casa para o presídio sem grandes temores.

A cadeia ficava situada num prédio no centro da cidade, na Praça da Independência. Passávamos andando pela calçada ao lado do presídio e ouvia um detento chamando: “Romariz, leve um recado para minha família”. Assustada, perguntava quem era o preso. “É um amigo”, dizia meu pai.

Aconteceu nessa época um caso interessante. Assumiu a alfabetização da cadeia um professor comunista. Polícia, família e conhecidos procuravam o moço. Um belo dia, ele aparece, sorridente, em nossa casa.
Onde você andava? Todos queriam saber. E ele, gaiato, respondia: “Escondi-me no presídio”. Risada geral!

Era um tempo em que apesar das prisões, havia no Brasil interesse por dias melhores. Maceió ainda era pequena, os comunistas conhecidos e acreditavam no que lutavam.

Um deles, autônomo, tinha cinco filhos. Quando ia preso, deixava de trabalhar. Ao sair de casa, olhava para a esposa e dizia: “Fulana, se alguém morrer de fome, salgue”!

Numa das vezes, deixou uma filha tuberculosa. Para eles, os idealistas, a causa era maior.
Atualmente, não sabemos quem é de direita, quem é de esquerda. Os políticos pulam de galho em galho. O importante é ganhar as eleições, ter poder e dinheiro.

Dizem que o atual presidente é de esquerda. Mas é só olhar para as pessoas com que fez aliança para se eleger e verificar a mistura de falso idealismo. Os ministros são indicados pelos partidos de centro, de esquerda, mas tem também os que já foram de direita. Uma verdadeira salada!

Procuro alguém idealista, que acredite num Brasil melhor e não encontro. A política no momento é aquela do “é dando que se recebe”.

Os escândalos se sucedem. Os mesmos vigaristas da época da covid estão sendo investigados e implicados no “descontão” do INSS. E nada acontece com os marginais!

A preocupação atual é punir Bolsonaro e assessores. Para os ministros do Supremo Tribunal Federal todos são culpados, até a velhinha que fazia croché na porta dos quartéis. Cadeia para todos!

Gostaria de conhecer alguém que não fosse de direita, nem de esquerda. Apenas acreditasse no Brasil, sem precisar de cargos. Uma criatura que se dedicasse ao nosso país, imaginando que poderia sugerir aos políticos caminhos mais saudáveis.

Por outro lado, o cidadão comum tem a obrigação de lutar por seu município, seu estado. Com o aparecimento das redes sociais surgiu um excelente caminho para o povo ter vez e voz.

Se qualquer pessoa acreditar na causa pela qual luta, não precisa ser ministro, assessor, ou qualquer outra coisa. Basta sonhar, gritar, escrever e dizer bem alto: acredito no que faço!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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