colunista

Alari Romariz

Atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Histórias de mães

24/05/2025 - 06:00
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Sempre fiquei impressionada com os fatos presenciados envolvendo filhos e mães idosas. Os papéis se invertem quando os filhos viram adultos e as mães vão envelhecendo. Uma amiga ligou para um neto que mora no exterior e a genitora está no Brasil, bem doente. Depois de uma breve conversa, perguntou ao jovem pela mãe. “Vai bem”, disse ele. Quando vem vê-la? E o jovem irritado, respondeu: “Não tenho tempo; minha firma cresceu muito e não posso viajar; ajudo à velha financeiramente”. Assustei-me com a frieza do filho. Tenho um parente próximo que foi excelente filho com os pais até a morte deles. Cuidou dos dois com muita dedicação, até que Deus os levou. Quando o encontro, repito: Seu melhor papel foi o de filho. Sempre lutei para ficar e não incomodar os filhos. Primeiro, financeiramente. Depois, não depender deles para tudo. Os exemplos que vejo são deprimentes e os mais jovens só pensam na aposentadoria dos idosos.

Uma mãe ligou para os três filhos, querendo conversar com eles. Nenhum deles teve tempo. A mãe queria avisar que estava bem doente. Morreu logo depois e os filhos não a encontraram viva. O remorso foi maior para os três! Conheci um casal que levou a mãe da mulher para morar com eles, desde o dia do casamento. Chegaram duas filhas e a avó sempre ajudou na casa. Um belo dia, uma neta foi grosseira com a idosa. Ao saber do fato, o pai castigou a filha. Fez efeito. A pobre velha adoeceu e ficou com eles até a morte. Dois órfãos de pai foram criados por três mulheres. Casaram, mas nunca esqueceram a mãe e as duas tias. Cuidaram delas até a morte. Pagaram com muito amor o que receberam das três mulheres. Conheci na Igreja de Santo Amaro uma senhorinha que vinha à missa todos os domingos. Humilde, de sapatos de pano e bengala, chegava à igreja bem devagar. Aproximou-se de nós e pediu carona. Morava num quarto na periferia de Paripueira. Íamos levá-la em casa e dávamos a ela uma ajuda. Uma antiga patroa, mensalmente, vinha trazer-lhe uma cesta básica e algum valor em dinheiro. Perguntei à idosa se tinha algum parente vivo. Ela me disse que tinha uma filha e não sabia onde ela morava. Sumiu da igreja a pobre velhinha e soube que havia morrido. Li numa revista a história de uma vendedora de roupas na periferia de uma grande cidade. O repórter perguntou a ela qual o seu grande sonho. E ela respondeu: “Ter uma casa com varanda e poder juntar filhos e netos ao redor de uma grande mesa de madeira”. Ah, continuou a vendedora: “Queria ser bisavó e alguém me chamando de Bisa”! Chorei emocionada, porque eu consegui realizar semelhante sonho! Essas histórias que conto para meus leitores são verdadeiras. Isso não quer dizer que não existem bons filhos, cuidando de seus pais. Eu e meu marido somos privilegiados, pois contamos com a atenção de filhos e netos. Quando o problema acontece, é só ligar e um anjo aparece.

Tomo um susto quando ouço um jovem dizer que o asilo é o melhor lugar para seus pais. Sei que há boas casas para velhos. Um exemplo é o Retiro dos Artistas. Vejo na TV que é bem cuidado e as pessoas que lá estão são felizes. Entretanto ainda acho que estar ao lado da família é bem mais saudável. A mãe que criou seus filhos com sacrifício merece um fim de vida feliz. Trabalhar durante trinta, quarenta anos, para cuidar de uma família, dá direito aos pais de serem bem acompanhados na velhice. Gostaria de lembrar aos chefes de família que vão chegando à velhice: procurem ter a sua independência financeira, uma casa para morar e se possível, paguem alguém para ajudar os idosos. Não esperem só pelos filhos. Eles têm família para cuidar. Entreguem a Deus seu futuro! Ele existe. Não duvidem!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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