O Rio Risonho
Antes do ano 2000 fomos morar na cidade de Paripueira, num loteamento com apenas quatro casas. Localizado em frente ao mar e perto da foz de um rio, o Sauaçuí, que corre diretamente para Oceano Atlântico.
Por ser novo, o empreendimento Atlântico Norte apresentava vários problemas: roubos de fios, água muito pouca e sem tratamento, falta de segurança.
O número de casas foi aumentando e um grupo de moradores juntou-se para organizar o loteamento. Formou-se então a Associação dos Moradores do Atlântico Norte, cujas reuniões eram realizadas em nossa casa.
Em 2013, pessoas desavisadas aterraram uma parte do leito do rio, próximo a uma ponte nas imediações da sua foz. Ele, irritado, começou a correr pela parte de cima, onde ficavam as casas do Atlântico Norte. Foi levando terreno, plantações de coqueiros e principalmente as casas que ficavam próximas à beira do mar. Um desastre. Perdemos um terço dos três lotes onde construímos nosso “paraíso”.
Teve início, então, a luta contra o rio: caminhões de pedras, caríssimos, foram colocados nas frentes das residências para evitar o mal maior: a perda total do patrimônio dos moradores da orla.
A associação preocupou-se com o fato. A televisão foi chamada para gravar a destruição. Uma moradora prejudicada concedeu uma entrevista na ocasião e o presidente da associação, irritado, ligou para a senhora aos gritos, de forma deseducada. Culpou-a se o problema não fosse resolvido.
Providenciou uma assembleia geral, passou o filme da reportagem televisionada e falou mal da moradora, em sua ausência.
Depois disso, juntou um grupo de amigos, foi ao governador pedir para construir uma obra, consertando o caminho do rio e preparando a construção de uma orla na nova área. O governador prometeu, mas não cumpriu.
Nesse intervalo, surgiu um novo empreendimento, o Rio Mar, ao lado do nosso. Casas belas e ricas! Para surpresa de todos, foi construído, de maneira errada, um caríssimo dique na frente das casas, invadindo a área de proteção ambiental, leito ora do rio, ora do mar, na maré alta, apesar de autorizada pelo IMA – Instituto do Meio Ambiente. Ouvi de um técnico da instituição: “Está tudo errado, mas não dá para corrigir”.
Pois bem, tempos depois o rio juntou-se com o mar e derrubou parte da proteção da obra, enchendo o jardim frontal às casas com as águas de uma maré alta. Foi um festival de pedras e vidros quebrados.
Estamos em 2025, o rio continua caminhando da fronteira de Paripueira com Maceió, até perto do centro da pequena cidade. Nada o detém! A cada ano corre de maneira diferente. É preciso fotografar o leito dele depois de cada maré alta, para entendê-lo.
O bom de todo esse “samba do crioulo doido” é que na parte da praia por onde o rio passa, não aparecem carros de som com seus “paredões” bastante incômodos.
Entretanto, com o vai e vem do rio e do mar, as últimas chuvas deixaram a praia muito suja de lixo já coletado pela limpeza urbana. A Prefeitura não limpa nada, omitindo-se de uma das principais tarefas sob sua responsabilidade.
Não se fala mais em construir a orla, nem em corrigir o caminho do rio. Os políticos se esqueceram do caso. A cidade tomou um banho de asfalto sem que as ruas fossem saneadas. Quando chove, as águas descem da parte alta e levanta a nova cobertura asfáltica das partes baixas. Um desdouro!
O rio sorri dos humanos que brigaram por sua causa e assim pensa: pobres coitados! Não podem comigo. Perdem velhos companheiros e nada realizam. E lá vou eu, junto com o mar, passeando pelas praias.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA