colunista

Alari Romariz

Atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

A justiça dos homens e a justiça de Deus

04/10/2025 - 06:00
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Desde pequena ouço dizer que a Justiça dos homens é lenta. E para comprovar tal afirmação, como servidora pública acompanho processos e vejo a realidade nua e crua.

Sempre que somos prejudicados na entidade onde trabalhamos temos o direito de reclamar administrativamente, solicitando a solução do caso. Entretanto, na maioria das vezes, os dirigentes demoram muito para responder ou engavetam o processo, pois sabem que após trinta dias o requerente pode ir à Justiça. Para eles, os donos da Casa, é melhor, pois são anos de espera aguardando a solução. Quando comecei a trabalhar, podíamos entrar com mandado de segurança se o caso tratava de salário. Era bem mais rápido. Hoje não é mais assim. Recentemente, um advogado me informou que um processo de 1985 estava sendo concluído. Ou seja, são quarenta anos de espera!

Lembro-me que, com 12 anos, ajudava o meu pai em processos administrativos e a solução vinha logo. Um moço, amigo nosso, foi injustamente acusado de roubo, no antigo SAPS. Em menos de um ano foi absolvido e recebeu os salários de volta. Ficou eternamente grato ao auditor fiscal, meu pai.

Trabalhei como sindicalista durante muitos anos e tentava ajudar os companheiros quando eram injustamente prejudicados. Poucas vezes, ou quase nunca conseguia solucionar algo administrativamente. Então, depois que o Legislativo descobriu a lentidão da Justiça, aconselha judicializar o que está sendo reclamado. Tudo muda quando o reclamante é parente ou amigo de deputado. Certa vez encontrei duas mulheres na Praça da Catedral. Dirigiram-se a mim e disseram que seus salários tinham sido cortados. Perguntaram: “O que devemos fazer?” Respondi: Conhecem algum deputado? Elas responderam: “Sim, o presidente. Era amigo do meu marido, que já morreu”. Lembrei-me do parlamentar falecido. Era um homem bem valente, do Sertão, famoso e temido. Pois bem, disse eu, vá ao presidente e conte sua história. Ela, a viúva, foi à autoridade e relatou o fato. Teve o salário de volta e no mesmo dia recebeu o que dela tiraram.

Quem sempre me ajudou em casos de injustiças foi o deputado José Bernardes. Muito humano. Não perseguiu ninguém. Quando tínhamos a Golden Cross e a ciranda financeira não permitiu que os companheiros pudessem pagá-la, fui a ele e contei tudo. Ele nos ajudou a fundar a Copamedh, nosso plano de saúde, de saudosa memória. Além disso, resolveu vários problemas criados pela inadimplência, inclusive o caso de um servidor ameaçado de perder a casa que possuía. Deus o tenha em bom lugar!

Tenho saudades do tempo em que os dirigentes eram acessíveis e nos ajudavam a resolver problemas corriqueiros. Hoje, para falar com um simples diretor ou um procurador é uma longa novela. Eles vão à Assembleia quando querem e só recebem o servidor reclamante se houver um padrinho no circuito. Para chegar à Mesa Diretora é outro drama. São homens vaidosos que prejudicam os servidores. O quadro de ativos do Poder Legislativo está encolhendo e o de comissionados crescendo. Não se fala em concurso público; ativos, junto com os inativos, são vítimas das maldades dos poderosos. O motivo de tudo isso é que os comissionados obedecem rigorosamente à Mesa Diretora.

Esquecem os nossos dirigentes que não só existe a Justiça dos homens. A mais eficaz mesmo é a Justiça de Deus. Lá de cima, Ele está vendo o sofrimento dos servidores do Legislativo: perseguição, processos engavetados, diretores maldosos. Quem faz aqui, paga aqui mesmo! Deus existe! Não duvidem!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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