A tragédia nos ronda há 105 dias
O Brasil até 30 de junho alcançou em 3 ½ meses de epidemia o brutal número de quase 60 mil óbitos provocados pela covid-19. Sem bússola nem timoneiro, o navio da epidemia em nosso país segue sua rota de morte, desassossego social, crise econômica brutal e de total falta de perspectiva quanto a saídas para o pós-pandemia.
Foram 105 dias onde o país, chocado, assistiu o presidente da República radicalizar ainda mais suas já radicalizadas posições políticas contra a democracia e seus organismos representativos esticando a corda muito além do ponto de ruptura que a Nação não quer, nem deseja. Até ser parado “na marra” pela força da Lei e pela população que opinou (81%) contra suas ideias e posturas golpistas.
Foram 105 dias do mais puro Millôr Fernandes “Depressa meu irmão/ e sai da pista/ o Brasil é um trem sem maquinista”, período em que o chefe da Nação enciumado com a boa condução da crise sanitária por seu ministro da saúde, Luiz Mandetta que não aceitou entrar na estória do primeiro mandatário de que era só “uma gripezinha” (sic!).
Demitiu-o por, segundo ele, “estar aparecendo demais”, nomeando Nelson Teich, o breve, que recebeu o ministério loteado de milicos para vigiá-lo e atrapalhar o trabalho correto que seu antecessor vinha fazendo, mesmo sob cerrado ataque contrário de Bolsonaro.
Enquanto isso a Covid-19 que de política nada entende, seguiu ceifando vidas de brasileiros de todos os quadrantes, especialmente os do Norte, Nordeste, Rio e SP. E o ministério da saúde passou a ser um empecilho à solução da crise. Um zero à esquerda em termos de coordenação e gestão da crise.
Nesse interim, o Brasil disparou rumo às primeiras posições de mais um ranking negativo, desta vez, pela anomia do governo federal, a irresponsável conduta do presidente da república e – em grande parte, dos governos estaduais na condução (inadequada, tíbia e politizada, a meu ver) das políticas de distanciamento social ou de lockdown.
Tanto isso é verdade que, a rigor, apenas nos primeiros 15 dias (entre meados de março e inicio de abril) a coisa funcionou com taxas de recolhimento social superiores a 60% (quando o ideal seria de no mínimo 70%). Atualmente, aquelas políticas foram desmoralizadas. A população já não mais as obedece e os governantes fingem que não veem isso.
O país está entregue ao Deus Proverá como tanto desejava Bolsonaro. Daqui para frente é rezar e esperar, por que dessas autoridades aí não sai mais nada de útil para o povo. Apenas para referência, nossa taxa de isolamento social anda na casa dos 30%. 70% das pessoas estão por aí se expondo e contaminando outras. Exatamente o inverso do que se deveria fazer...
Se na saúde a coisa desandou e fazer enfrentar sem proteção do Estado a epidemia, na economia a coisa também vem sendo conduzida de mal a pior. O ministro Guedes, perdeu-se no meio da pandemia e não mais se achou, sua condução da área econômica na crise tem sido um desastre.
Estamos assistindo a um filme de horror cujos protagonistas têm de um lado as micros, pequenas e médias empresas (como vítimas) e do outro o governo – cheio de medalhões estrelados por doutorados que a gente sabe como é que são feitos em sua grande maioria – insensíveis ao caos gerado pela queda abrupta e simultânea da demanda e da oferta que está levando à bancarrota milhares (logo poderão ser milhão de empresas) que se não forem ajudadas logo, vão quebrar.
O país já está tecnicamente quebrado, não tem mais grana (eles estão escondendo isso a todo custo) para bancar os meses seguintes desta crise prolongada (na Europa, em 3 meses os países administraram o problema) que deve se estender ao longo deste resto de ano.
Nossa dívida pública a esta altura já estourou para mais de 100% do PIB (o ideal é 70%), temos que rolar 90 bilhões de dólares dela nos próximos 12 meses e os investidores já mandaram recado claro que estão fora, se continuar a política predadora da Amazônia (sem eles, aí o país quebra de verdade).
E até agora, nada, absolutamente nada do governo, do ministério da economia engatar uma proposta crível para reduzir o impacto brutal da queda do PIB nesse trimestre em 10%, cujos reflexos na vida de todos serão 3 vezes piores que os últimos 3 anos pós governos petistas.
A epidemia vai continuar grassando, avançando, matando. Serão 100 mil mortos no final de julho (ou próximo disso) e 125 mil óbitos até agosto, segundo estudos realizados pelo mesmo instituto que assessora a Casa Branca nesta pandemia.
E o sentimento que nos resta é o da estupefação, de raiva interna contida à custa de desequilíbrios emocionais de milhões, de preocupação extrema de como se vai sobreviver numa economia quebrada, com milhares de empresas fechando, 18 milhões de desempregados, 40 milhões de informais, sem que ninguém, apresente saídas.
Trágico momento vivemos neste país.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA