colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A marcha da insensatez, da covardia e do golpismo

10/08/2021 - 10:04
Atualização: 10/08/2021 - 10:39

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General Newton Cruz
General Newton Cruz

A tentativa intimidatória de Bolsonaro de hoje com o “desfile” de 150 blindados que mal ficam em pé de tão obsoletos, para lhe entregar um simples convite da Marinha (coisa que um estafeta poderia fazer entregando a tal correspondência à sua secretaria) fez-me voltar a 1985.

Naquele ano, no dia 23 de abril, uma sexta feira, final de tarde, o general Newton Cruz, então comandante militar do Planalto no governo João Figueiredo (em seus estertores), tentou acabar “na marra” com uma carreata programada para a Esplanada dos Ministérios em horário inteligentemente planejado que coincidia com a saída do trabalho dos funcionários dos diversos Ministérios.

O que engrossaria em muito a carreata. Para neutralizar a iniciativa dos organizadores do protesto, o governo “antecipou” naquele dia em uma hora, a liberação dos funcionários dos ministérios e recomendou a não participação na dita carreata.

Recebemos a comunicação do Governo Federal às 4 horas (eu trabalhava no Ministério da Agricultura), com uma hora de antecedência do evento, justamente para que não vazasse para a organização o intento de esvaziá-lo. Debalde. Avisados, os organizadores anteciparam em uma hora o inicio da carreata. Que foi um estrondoso sucesso e – literalmente – paralisou toda a Esplanada dos Ministérios durante pelo menos umas duas horas.

Lembro perfeitamente do general Newton Cruz (acompanhado de dezenas de cavaleiros) apoplético em cima do seu cavalo “chicoteando” em plena Esplanada dos Ministérios os veículos da carreata e, soltando impropérios contra os manifestantes (ou não, já que muita gente dos ministérios não sabia do evento ou não o apoiava, mas foram “obrigados a participarem” já que o trânsito não fluía) paralisados em plena avenida.

O sucesso da basófia aprontada pela carreata e; como os milicos, incapazes de acabar com a carreata, estavam sendo – sem que houvesse um único ato ostensivo a eles – desmoralizados pelo buzinaço promovido pelos manifestantes, foi o ponto alto do evento.

O que fortaleceu ainda mais a mega manifestação pelas Diretas Já programada para dois dias depois. E que mudou a história. Newton Cruz aquele do “cerco” infrutífero à carreata de abril de 1985 promoveu outra bravata ao desfilar ameaçadoramente em plena Esplanada dos Ministérios com 116 tanques e estacioná-los em frente ao Congresso às vésperas da votação das Diretas já. Deu no que deu. De novo.

Mesmo o governo tendo vencido a batalha parlamentar no Congresso que impediu eleições diretas, a oposição saiu de tal forma fortalecida que, meses depois derrotou em pleno colégio eleitoral, em votação indireta, o candidato a presidente da república da revolução. Tempos heroicos aqueles em que em defesa da democracia, enfrentávamos nas ruas a fúria dos que já se sabiam derrotados.

Hoje, é o derrotado de véspera das próximas eleições que vem promovendo arruaças diversas tentando melar as próximas eleições, sem que – até agora – tenham lhe colocado o guizo.

O ato que acontece hoje é típico dos covardes e dos golpistas para tentar intimidar a Nação. Vão se danar de novo. A pressão indevida ao Congresso que vai votar a questão do voto impresso terá certamente resposta imediata: O voto impresso vai prás cucuia.

Esse “passeio” pela Esplanada dos Ministérios, digno de uma república de bananas, não poderia ter sido endossado pelas forças armadas. Que precisam repelir tentações autoritárias desse presidente golpista. A posição da força tem que ser de obediência à Constituição. Atitudes como está, desgasta ainda mais a sua imagem. É preciso abortar essa insensatez

Não estamos em 1964. É preciso que saibam disso. Haverá reações ao destempero. Não levem este país a confrontação civil em nome desta figura bestial golpista e incompetente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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