Como Bolsonaro perdeu para ele mesmo
Em relação aos votos obtidos na eleição de 2018 por Haddad e em 2022 por Lula, o PT avançou nada menos que 13 milhões de votos, de 47 milhões para os 60 milhões de votos de ontem. Um crescimento de nada menos que 28% (de 116 milhões para 124 milhões). Um desempenho notável. Especialmente se cotejado com a evolução dos votos em Bolsonaro entre uma eleição e outra: 1,6%.
A leitura bruta dos números de ontem indica que o discurso bolsonarista mesmo a despeito do infame “nós contra eles” (inaugurado pelos petistas antes do primeiro governo Lula) exacerbado nos últimos 4 anos por Bolsonaro, manteve o país rachado meio a meio, mas assegurou a manutenção do seu eleitorado de 2018. Mas foi insuficiente para se eleger.
Por outro lado, eles deixam claro que o maior eleitor de Lula foi Bolsonaro e seus destemperos pessoais, ameaças antidemocráticas e péssima gestão governamental. Ele conseguiu a façanha de fazer com que nomes de peso que, em outras circunstâncias, jamais apoiariam Lula - um político com um passivo enorme de corrupção que elegeu Dilma que provocou a pior recessão do país em todos os tempos – desta feita estivessem com ele.
E mais: que praticamente todos os 28% “novos” eleitores (em relação às eleições de 2018) votassem no petista. A equação de 2018 que ajudou a eleger Bolsonaro trocou os sinais: Este ano Bolsonaro causou ainda mais medo que a corrupção petista e o desastre econômico que eles causaram ao país.
Os números também mostraram a força da direita e dos que não querem o PT de volta (quase metade dos eleitores). Um indicativo do que espera Lula se insistir nas premissas do petismo. Que nos dois discursos de ontem indicaram ser a trilha que ele vai seguir, ao se “candidatar” a ser o “pai dos brasileiros” uma lembrança populista infame de Peron e Getúlio, ou quando prometeu realizar a mesma gastança inócua do petismo – sem antes equilibrar as contas - que só vai afundar ainda mais o país, caso ele consiga seu intento ou, “doar” dinheiro dos brasileiros para financiar Cuba, ditaduras latino-americanas e governos corruptos africanos.
Um dado relevante que ao menos ontem no calor dos resultados passou meio que ao largo foi o alerta dado pelo presidente da câmara de que os arroubos petistas serão analisados em minúcias por um parlamento claramente de direita. Mas também, um sinal que vem por aí o mais do mesmo das negociatas com o Centrão para “assegurar a governabilidade”, a manutenção do orçamento secreto, mesmo que com outro nome e coisas do tipo.
Lula ganhou as eleições. Mas precisa construir o caminho para reduzir a miséria, a desigualdade e, em especial, a rota perdida do crescimento e do desenvolvimento econômico. Precisa também se acertar com o agronegócio a principal atividade do país atualmente, com o mercado financeiro e o empresariado de maior coturno que torcem o nariz para as propostas esquerdistas do PT.
Os próximos dois meses são uma excelente oportunidade para que o eleito estruture um programa de governo decente, que atenda as demandas do Brasil de verdade e seus problemas reais. O que ele se recusou a fazer durante a campanha eleitoral.
E que seus “novos amigos” como os pais do Real, o convençam a ajustar seu discurso de mais governo por um de mais reformas estruturais e zero corrupção. Vai ser um desafio...
Quanto ao Nordeste que mais uma vez o elegeu, que ele pare de olhar para a região com a visão retrógada assistencialista de sempre, ou de “eleger” a natimorta SUDENE, um paraíso de ineficiência e corrupção como “solução” para patrocinar o crescimento da região. O Nordeste moderno aguarda ser chamado para apontar os caminhos a serem trilhados para se tornar competitivo. Chega de teses e propostas escrotas para a região.
Torço criticamente por um governo melhor que o atual. Mas antes, Lula precisa resgatar credibilidade junto ao “outro” Brasil que não votou com ele. Que seu novo discurso de governar para todos seja de verdade. Ou...
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA