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Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Elias Fragoso: Reflexões e Luta!

23/04/2023 - 08:40

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Elias Fragoso
Elias Fragoso

Eu preciso revelar uma confidência para vocês. Quando do meu retorno definitivo para Maceió, tinha o firme propósito de dispor da nossa expertise profissional no setor público e no privado ao longo dos últimos quase 50 anos Brasil afora, de modo a poder colaborar com Alagoas para ajudar o estado a encontrar saídas para a sinuca de bico do super subdesenvolvimento em que se meteu há muitas décadas.

E o fiz de forma clara e transparente. Sem buscar “padrinhos”, aliados ou acertos de bastidores. Foi através de vários artigos nas páginas do EXTRA e no Extra Online de domingo que esboçamos o que denominei da proposta “Alagoas tem jeito!”, uma série de sugestões não só exequíveis, mas possíveis de serem implementadas para o estado hoje sem saídas - começar a desamarrar o nó górdio da pobreza e do atraso generalizado em que está metido. E afirmo: não é sonho, são ações e projetos testados mundo afora, que a turma por aqui pouco ou nada conhecem. Debalde!

Não foram palavras ao vento, por que estão registradas nas páginas do EXTRA. E, quem sabe, alguém se toque e leve à frente as ideias ali alinhavadas, materializando algumas delas em prol desse estado miserável. Novamente: estou à disposição. Mas por apenas mais dois anos, que depois disso, vou curtir minhas merecidas férias das minhas atividades profissionais que completam 50 anos este ano!

Nesse meio tempo enquanto aguardei algum interesse nas propostas, mantive contato com intelectuais, profissionais liberais, pessoas da academia, jornalistas e outras pessoas da sociedade. Acabei envolvido num torvelinho de temas locais aos quais não tinha a priori intenção de profundar/explorar. Mas eis que dentre estes surge o megadesastre provocado pela Braskem na cidade.
O receio em se tratar do tema mesmo em colóquios individuais e o sentimento surdo de impotência diante da força da multinacional e da anomia e prevaricação das autoridades foram uma constante nas minhas conversas pela cidade.

Foi quando percebi que se nada fosse feito por parte da cidadania, o que já estava ruim, ficaria muito pior. Com sérios riscos do mega desastre entrar para os anais das coisas não resolvidas da terrinha com enorme prejuízo para o estado, os municípios da região metropolitana e Maceió e para os moradores dos bairros atingidos.

Dai para o surgimento da ideia de produzir um livro critico que rasgasse a Cortina de Silêncios, meias verdade, mentiras, anomias e prevaricações que havia se estabelecido em torno do tema nos últimos 50 anos, com um olhar especial para a questão da presença de uma indústria química de grande porte da Braskem dentro de Maceió e para o mega desastre que a empresa provocou em Maceió que afetou a mais de 200 mil pessoas. Foi um estrondoso sucesso de vendas e de alto impacto nos meios técnicos e na sociedade em geral. Foi na verdade como se a partir dali as pessoas começassem a reagir e entender que ou a cidadania assumia de frente a luta pelos direitos do estado, município e atingidos pelo megadesastre ou se veria o triunfo do poder de uma multinacional sobre 3,5 milhões de alagoanos.

Obrigados aos meus amigos Zé Geraldo Marques, Abel Galindo, Edson Bezerra, Isadora Padilha e Cláudio Vieira que tiveram a coragem e a disposição de enfrentar o “monstro” de frente para produzirmos um livro que já está nos Anais de Alagoas.
A partir do seu lançamento, foi uma reviravolta que trouxe em seu bojo uma torrente de ações que foram impetradas por nós, os cidadãos, a margem da justiça local, até então inerte e apoiante de um acordo entre a empresa e o MPF (que precisa ser urgentemente ser rediscutido por tendencioso em prol da Braskem) e do poder estadual e municipal.

Em menos de 4 meses, nas três tentativas de venda da empresa utilizamos de uma arma infalível: alertamos os interessados e a CVM via comunicação direta (e na imprensa nacional) sobre o enorme passivo não resolvido da Braskem em Alagoas;
Também impedimos denunciando na imprensa local não comprometida, a “armação” de uma escuta pública (sic) de cartas marcadas, obrigando-a a empresa a suspender o evento às vésperas do mesmo. A proposta era entregar para a Braskem (como previsto no acordo (sic) os destinos das ações e projetos a serem executados nas áreas afetadas sem nenhuma intervenção do setor publico municipal, estadual ou federal).

Essa mesma “escuta pública” veio a ser realizada meses após, agora com a presença de interessados, técnicos, intelectuais (mas sem a presença dos entes estatais...) e teve suas propostas literalmente rejeitadas pelos presentes (mas a empresa por debaixo dos panos está se movendo para enfiar goela abaixo de Alagoas a proposta rejeitada pela sociedade, numa reunião prevista para o dia 3 de maio) que precisa ser sustada pelo ministério público, e entidades, antes que mais danos sejam causados.

Quase ao mesmo tempo, quando do anúncio da Braskem como patrocinadora do Big Brother, da rede globo, novamente a cidadania se movimentou numa carta aberta de repúdio que alcançou ampla repercussão nacional (mais de 35 mil adesões) e que levou à rejeição de 36% da Braskem nas redes sociais quando citada com os demais patrocinadores do programa nas chamadas iniciais do programa.

São pequenas vitórias, mas que mudaram “o rumo da conversa” que vinha sendo encaminhada com sucesso pela Braskem a condução do caso do megadesastre.

A entrada recente do senador Renan Calheiros no imbróglio em defesa de Alagoas, dos municípios atingidos e das pessoas afetadas se movimentado para impedir a venda da empresa sem que antes ela tenha resolvido – de fato – os seus passivos do megadesastre é sem dúvida, um grande handicap para a luta que já vem de 5 anos.

Me sinto feliz em ter podido contribuir para “Rasgar a Cortina de Silêncios” que abafava o caso e asfixiava os que tanto perderam. A proposito: lá no livro tem uma proposta do tipo ganha- ganha escrita a quatro mãos (por mim e a Urbanista Isadora Padilha). Pode ser o caminho para ninguém perder e todos ganharem...

Ou vão dar o mesmo destino das propostas do Alagoas tem Jeito!?

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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