colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Uma ode ao Millôr

26/06/2023 - 11:24

ACESSIBILIDADE

Arquivo/Ana Branco/16-2-2000
Millôr Fernandes em seu estúdio, em Ipanema, em 2000
Millôr Fernandes em seu estúdio, em Ipanema, em 2000

Este país até poucas décadas foi habitado por uma plêiade de gênios que, não por acaso, também foram grandes frasistas. Construíam de forma leve e sutil e por vezes direta como um esbofeteio, um tipo de crítica social que, se não resolviam os eternos problemas do Brasil, ao menos serviam como válvula de escape para que a população sofrida deste país desopilasse o fígado de tanto rir e vivesse – por breves instantes – a fantasia do que uma frase bem construída pode ensejar nas pessoas.

Millôr Fernandes, a meu gosto o maior deles, foi um grande construtor de frases impagáveis, algumas imortais e todas de um refinamento intelectual pouco percebido por muitos que apenas se deleitavam com suas “tiradas” como essas:

“O cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas a matéria prima”; “O preço da fidelidade é a eterna vigilância”; “Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem”; “Brasil, condenado à esperança”; “Ambíguo, eu? Pode ser, pode não ser”; ou a frase que é mote deste jornal: “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.

Ou essas: “Pois eu, num pôquer com Maluf e Brizola, só entrava com baralho meu”; “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”; “Por mais imbecil que você seja sempre haverá um imbecil para achar que você não o é”; “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário”; “A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita acredita cegamente em tudo que lhe ensinaram, e a Esquerda acredita cegamente em tudo que ensina”.

Além de seu espírito provocador, Millôr tinha uma grande capacidade de criar aforismos e suas ilustrações estavam repletas de humor e criatividade. Foi um gênio que se achava comum. Como todos os grandes devem ser.

Millôr era múltiplo. Sua mente afiada, sua pena criativa e suas frases instigantes foram a sua marca registrada. Mas foi também um dos maiores dramaturgos que o Brasil já teve. Produziu peças que fizeram história no teatro brasileiro, como Liberdade, liberdade (em coautoria com Flávio Rangel) e É..., uma das suas obras mais famosas.

Essa breve homenagem é porque hoje acordei sentindo falta da sua sagacidade inteligente e da ironia refinada das suas frases sempre inteligentes.

Faz muita falta nos dias de hoje.

banner

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato