colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Caso Braskem: a hora chegou e não podemos errar

12/11/2023 - 08:10
Atualização: 12/11/2023 - 08:13

ACESSIBILIDADE

Assessoria
Braskem
Braskem

Ao longo desta semana passada, a mídia especializada anunciou com destaque a oferta não vinculante da ADNOC para aquisição das ações da empresa NOVONOR (Ex. Odebrecht) na Braskem, ora em poder dos bancos (dadas em garantia) em função de dívida contraída e até hoje não paga pela petroquímica para ajudar a cobrir o rombo da ex. Odebrecht decorrente das pesadas multas a ela infringidas pela Operação Lava Jato e pelas mesmas razões, pela justiça americana.

A ADNOC desta feita apresentou sozinha a proposta (sem o fundo abutre Apollo que havia sido seu parceiro na oferta anterior que havia sido rejeitada). A proposta não vinculante foi de 10,5 bilhões de reais (paga R$37,29 por ação da Braskem, cotada em mercado no dia (11/11) em torno de R$ 19,00...).

Mas depende ainda de uma série de condicionantes, dentre eles, a realização de Due Dilligence na Braskem e o acerto formal com a Petrobrás em relação à formação de uma parceria composta pelo Fundo “que tocaria o negócio”, a Petroleira brasileira que seria majoritária, e a NOVONOR (que ganha de “presente” a sua continuidade na Braskem com 3% de participação na empresa). A oferta até onde se sabe é de interesse dos bancos que receberia 50% à vista e a outra metade a prazo.

Enquanto isso, a Petrobrás (que é dona de pouco mais de 36% das ações da Braskem, perdendo apenas para a NOVONOR, que detém de pouco mais de 38% das ações da empresa), insiste no seu discurso dúbio de que está “analisando as possibilidades” para uma decisão sobre se fica ou não na Braskem, postura que só engana à velhinha de Taubaté do Veríssimo.

O mercado sabe que a ADNOC somente fez a proposta depois de se acertar nos bastidores com a Petrobras e os Bancos num jogo de cena bem ensaiado em relação à aquisição da Braskem. Mais uma vez deixaram – de caso pensado - de fora o “Caso Alagoas” nome sutilmente inserido pela Braskem na mídia para evitar que o megadesastre que ela provocou em Maceió fosse chamado por seu verdadeiro nome: o maior crime ambiental de todos os tempos – em todo o mundo - provocado em área urbana de uma Capital por uma empresa química.

Estão todos – profissionalmente - “organizados” para que até janeiro/fevereiro, a Braskem mude a sua composição acionária. E Alagoas? Bem, se nada for feito de efetivamente objetivo e no mesmo patamar dos autores aqui citados, corre sério risco de ser engabelada pelos corvos que rodeiam essa operação.

As reuniões (3) que vem acontecendo com representantes da Braskem (sem qualificação e autonomia para tomar decisões) com representantes do governo de Alagoas não passam de clara tentativa diversionista. Enquanto fazem conosco o jogo de engana bobo, os fatos concretos estão sendo tratados e fechados longe de Alagoas entre os mega grupos que querem ter o controle da empresa. O risco de ficarmos com o pincel na mão sem tinta para pintar o quadro é grande.

Não se negocia com profissionais de forma amadora. Não se enfrenta forças como as que ora se apresentam no palco das negociações sem uma contraparte técnico-jurídica de peso tão ou mais poderosa que aquelas.

Alagoas, as prefeituras envolvidas e os afetados precisam avançar nesse quesito. Até o momento fez-se o certo: levantou-se – finalmente – os números do passivo da Braskem em Alagoas; criou-se grupo de assessoramento ao executivo com a presença de todos: governo de Alagoas e afetados, no flanco federal foi criada a CPI da Braskem para apurar os descaminhos e responsabilidades da empresa, mormente em Alagoas e, finalmente, se tem uma proposta a ser apresentada durante as negociações.

Falta tão somente profissionalizar as tratativas com a presença de experts nesta área e consultoria jurídica de “muito peso” no mercado e alta expertise em negociações intrincadas (seriam assessorados por consultoria técnica local, representantes do estado e dos afetados) antes que a coisa desande para o fechamento do negócio entre a Braskem e os interessados em adquiri-la e percamos o gigantesco esforço que tantos envidaram para se chegar até aqui.

Não se está lidando com neófitos, mas sim com gente forjada em negociações duras em que quase sempre levam a melhor. Exatamente pela falta de expertises forjadas na lide de causas do tamanho desta de Alagoas. Não dá para negociar de peito aberto com quem tem uma adaga afiada nas mãos para cortar qualquer veleidade de sucesso nas tratativas.

Em relação a Alagoas, ADNOC, PETROBRAS E BRASKEM vem enviando mensagens diversionistas esculpidas milimetricamente para infundir certa esperança nos credores em nosso estado, de que estão interessadas em resolver o mega problema que a Braskem gerou por aqui. Não é bem assim. Seus interesses estarão sempre voltados para maximizar os seus lucros e distribuir abundantes dividendos a seus acionistas. Ponto.

O que não rima com “meterem a mão no bolso” para desembolsar valor em torno de 30 bilhões de reais para os alagoanos. Só se moverão nesse sentido se houver união e pressão irresistível de Alagoas. Essa é a realidade. A lição de casa vem sendo feita direitinho. Não deixemos que veleidades e interesses outros ponham tudo a perder.

É por essas e outras que além da profissionalização das negociações, é preciso implantar a CPI da Braskem para investigar fundamente as entranhas dessa empresa e seus negócios. É quase certo que de lá não sairão coisas bonitas. Somente com pressão se chegará a um acordo. É o caminho a ser seguido.

Temos pela frente a oportunidade para equacionar o passivo da Braskem em Alagoas. Nossa proposta é palatável, realista. Governo e afetados se unem em torno do objetivo comum. Espero sinceramente que não percamos essa oportunidade como tantas outras que já aconteceram anteriormente por estas bandas e foram desperdiçadas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato