colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A nuvem cinzenta da mineração e o branco do sal-gema

24/03/2024 - 08:17

ACESSIBILIDADE


O incomparável Millôr Fernandes disse certa vez que: “Quando começou a comprar almas, o diabo inventou a sociedade de consumo”. Mas poderíamos tranquilamente adaptar para “quando o diabo começou a comprar almas, inventou as mineradoras no terceiro mundo onde habitamos”, já que nos países desenvolvidos elas atuam “pianinho”, cientes de que, se bobearem, dançam e seus dirigentes vão mofar por longo tempo na cadeia. Já por aqui...

O megadesastre de Maceió provocado pela Braskem é um case exemplar do criminoso modus operandi da mineradora em nosso estado. Que a rigor segue o padrão por elas estabelecidos (vejam os recentes casos de Mariana e Brumadinho que não saem do lugar pelos reiterados descumprimentos de acordos por parte das mineradoras).

O padrão destas é corromper e cooptar maximamente e só assumir os prejuízos pagando valores vis aos afetados pela mineração predatória em si ou pelos acidentes que amiúde as mineradoras cometem. E quase sempre fica por isso mesmo. Só para conhecimento: a bancada da mineração é uma das 3 maiores do Congresso Nacional. O blitzkrieg da Braskem para inviabilizar a CPI tornando-a o zumbi que estamos vendo, foi fruto direto dessa realidade.

Nesta semana tivemos um exemplo (são dezenas) patente de como agem as mineradoras. A fala mentirosa do coordenador da Defesa Civil da Prefeitura de Maceió que o relator engoliu porque – não sendo de Alagoas – pouco sabe ou tem conhecimentos superficialíssimos do problema, foi uma delas. Não vou gastar espaço com esse mau alagoano. O professor Abel Galindo em nota pessoal que está circulando há dias nas redes sociais e o defensor público Ricardo Melro na última quarta-feira, na própria CPI, se encarregaram disso.

Também chamou-nos a atenção ao longo dessa semana uma entrevista concedida pelo senador relator da CPI da Braskem ao jornal Valor Econômico onde, entre outras “pérolas”, ele dispara: “Por que Alagoas não fechou acordo [ainda] com a Braskem como a prefeitura já fez?” Só pode ser brincadeira de péssimo gosto deste senhor. Se ele tentou defender a prefeitura, findou foi por dar mais combustível para a vasta fogueira das críticas generalizadas ao prefeito pela traição cometida com o povo de Maceió.

É de se perguntar, será que ele não sabe sobre esse malfadado contrato. Se não, sua assessoria está levando-o a erros e conclusões crassas como essa “sugestão” a Alagoas. Pegou mal, relator. Sugiro à sua assessoria consultar as centenas de matérias, artigos, entrevistas, comentários públicos, etc. dando conta do que é o acordo-traição a Maceió que a prefeitura estranhamente assinou com a Braskem. Uma peça repulsiva, que causa asco e vergonha aos alagoanos. Uma aberração jurídica que o relator toma como parâmetro para sugerir a Alagoas fazer o mesmo.

Não se enganem. Essa empresa não quer tratativas equilibradas. Quer trabalhar no escuro dos bastidores e de lá sair com monstrengos como esse acordo com a Prefeitura ou o Acordo de 2021 assinado com o MPF sem a participação do Governo de Alagoas, da Prefeitura de Maceió, dos afetados, entidades de classe e da sociedade. Nos dois, a Braskem leva tudo e os maceioenses e os afetados nada.

As 140 mil pessoas físicas e jurídicas afetadas, os 8 municípios impactados e o Governo de Alagoas a meu ver não devem coonestar com a sugestão do relator da CPI da Braskem, nem com as imposições da Braskem. Somente sob a luz dos holofotes os afetados podem se proteger das investidas cinzentas contra Alagoas. A luz do sol é o melhor dos desinfetantes...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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