Cansado dessa safadeza toda!
Quando pergunto a autoridades, especialistas, estudiosos locais, economistas, sociólogos, jornalistas e a mais um monte de gente do por que - desde sempre - Alagoas se colocar como um dos estados mais atrasados do país, em especial nos últimos quase 50 anos de exploração do sal-gema em Maceió, a resposta é a estupefação pela pergunta. Que fica sem resposta...
É preciso dizer que até dois anos atrás (mesmo com o advento do megadesastre) autoridades, políticos e muitos quadros técnicos por aqui conclamavam ser a exploração do nosso principal mineral, a “redenção econômica de Alagoas” e a Braskem, o esteio do nosso desenvolvimento (sic). Jargão preguiçoso e mais das vezes mal intencionado sobre a lorota desenvolvimentista via sal-gema.
Uma aberração que atrasou Alagoas em 50 anos só deu um “break” quando há pouco mais de dois anos desmistificamos a mentira tsunâmica, obrigando os “amigos da Braskem” - todos orbitando o poder - a tangenciar a lorota fingindo não serem os culpados do mega atraso de Alagoas e a mudar o “discurso”, vez que a Braskem representa comprovadamente em torno de 0,4% do PIB de Alagoas (portanto, menos de meio por cento!) e emprega menos de 0,13% da mão de obra formal no estado de Alagoas, um estado, sabemos, campeão em desemprego!
A defesa a uma empresa que destruiu parte significativa de Alagoas, não pagou o prejuízo até hoje, diga-se de passagem, e jamais foi instada pela justiça a fazê-lo (muito ao contrário) é algo que não consigo entender. Mas o empenho dos seus “defensores” em detrimento do nosso estado e da nossa capital – uma atitude nojenta - deve ter alta recompensa. Esses sabujos são em verdade, os maiores inimigos dos maceioenses e dos alagoanos. O odor fétido desses canalhas causa asco.
Essa defesa se torna ainda mais asquerosa quando se sabe – e já há algum tempo venho chamando à atenção – que a situação da empresa e do seu grupo controlador é, para dizer o mínimo, complicada. No último domingo buscamos destrinchar algumas informações de mercado pouco conhecidas por essas plagas (quem quiser aprofundar o conhecimento da situação do grupo precisa acompanhar as questões legais nas quais está envolvido, os porões das decisões tomadas pela justiça em relação ao mesmo, e as suas iniciativas para tentar sair do Tsunami em que está metido sem pagar seus credores no caso de Alagoas.
Não é fácil. Mas, vamos tentando
A operação Lava Jato impactou fortemente o grupo Odebrecht levando de roldão a Braskem, sua controlada que teve que assumir acordos bilionários (aqui e nos Estado Unidos) para safar da cadeia seus dirigentes e evitar penas mais duras, em especial nos EUA. Para apoiar a Odebrecht, a Braskem endividou-se junto a um pool de bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES) dando como garantia as ações da sua controladora na empresa.
Que, pelas razões amplamente conhecidas não anda bem das pernas. Na verdade, a controladora NOVONOR está há algum tempo em recuperação judicial. Para “fazer caixa” o grupo já vendeu a ATVOS (biocombustíveis) e a Ocyan (Óleo e gás) e tenta há algum tempo se desfazer – sem sucesso - da Braskem e seu passivo gigante junto aos bancos e em Alagoas. Para efeito de organização do espaço para o artigo vamos resumir de forma superficial ao enrosco em que se encontra a antiga Odebrecht - que para se “esconder” trocou de nome e passou a se denominar NOVONOR: Desde as penas estipuladas pela operação Lava Jato e nos EUA que a empresa vem tendo problemas de caixa.
Em função disso, há seis anos ela tenta sem sucesso vender a Braskem. O problema é que os interessados após due dilligence desistem ao entender o difícil momento da Braskem em função do megadesastre de Maceió não resolvido e com um passivo (que ela não fala ou registra) superior a 18 bilhões de reais, além das indefinições do mercado de resina termoplásticas (em baixa há alguns anos e ainda sem perspectivas reais de retorno à normalidade).
Prova maior das dificuldades permanentes do grupo NOVONOR é que recentemente, teve que pedir a recuperação judicial de outra empresa do grupo, a atual “joia da coroa”, a OEC - (Odebrecht Engenharia e Construção), o seu braço de engenharia e construções. O pedido de RJ alcança o montante de 25 bilhões de reais de dívidas financeiras, operacionais e de antigas operações do grupo. Mas, ainda assim não resolve o problema do Holding.
É que as duas maiores empresas do grupo, a Braskem (com prejuízo de 4,5 bilhões de reais em 2023 e perspectiva de novo prejuízo para 2024) e a OEC (com prejuízo de 741 milhões de reais em 2023 e agora em recuperação judicial) não terão como ajudar o grupo. Muito ao contrário. Demandam apoio financeiro da NOVONOR que não tem disponibilidade financeira para tanto.
No caso da Braskem a situação é sensivelmente complicada. Suas ações valem atualmente pouco mais de 14 bilhões de reais em valores atualizados de mercado (já chegou a ser cotada a 34 bilhões de reais...). Ela deve 15 bilhões de reais aos bancos (dívida vencida e com autorização da justiça para ser executada) e não há perspectiva de venda pelas razões enumeradas neste artigo.
Aliás, nesse sentido, na semana que passou os bancos (alguns deles) manifestaram a eventual intenção de assumirem a empresa (o que seria bom para a Braskem que se livraria de um pepino de 15 bi de reais), mas é uma ação de difícil operacionalização, seja pela dificuldade de equalizar a posição dos cinco bancos, como pela manifestação contrária da Petrobrás – a segunda maior acionista da empresa – de ter os bancos como sócios... Ademais, é preciso lembrar que a empresa tem um passivo já levantado, mas não admitido por ela com credores em Alagoas que supera a casa dos 18 bilhões de reais.
Afinal, a NOVONOR não tem como resolver o passivo da Braskem em Alagoas. A Braskem dado os números aqui mostrados, também não. Futuros compradores dificilmente fecham negócio com um passivo em aberto do tamanho do da Braskem em Alagoas, sem antes ter um acordo que lhes assegure ficar de fora do problema.
Então como fica?
Os credores alagoanos, as 140 mil pessoas físicas e jurídicas afetadas de forma direta pelo desastre, o governo de Alagoas e as oito prefeituras da região metropolitana de Maceió impactadas pelo desastre querem receber o que lhes é devido.
Estaria a Petrobrás disposta a assumir a Braskem?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA