colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O Senado precisa revisar a ‘revisão’ do ensino médio

14/07/2024 - 06:00

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É certo que pior do que está não vai ficar, afinal, nenhuma novidade, estamos desde sempre na rabeira do PISA, o mais importante indicador qualitativo da saúde da educação de um país em relação às demais nações avaliadas. Também é certo que a tal “revisão” do ensino médio vai passar longe do mínimo capaz de levá-lo a sair do atoleiro sem fim em que está metido.

E aqui não vamos ficar a “pregar no deserto” sobre o que deve e o que não deve ser feito nessa área, afinal, uma das mais “estudadas” por especialistas em mais do mesmo (e defendidas com unhas e dentes pelos vários lobbies que infestam a área). Soluções disruptivas que é o que a educação precisa? Nem pensar...

Não é à toa que entra década, sai década e a coisa não melhora na educação pública brasileira (até hoje sequer superou 50% do índice do IDEB, que é de 0 a 10). Como se sabe, de cada 100 alunos que concluem o ensino médio, 92 saem sem o conhecimento básico e 91% não consegue interpretar um texto simples de 5 linhas. A educação pública do Brasil é um pacto pela mediocridade que a “revisão” não irá resolver.

Pelo simples fato de ela não atacar as causas do problema. Como a rasa qualidade dos docentes, a tragédia que virou o ensino superior dos cursos de formação de docentes, os currículos “do tempo da onça”, os conteúdos (mal ajambrados, defasados e ainda por cima mal ensinados) dos “tempos da carochinha”, quase, mas quase mesmo, zero de tecnologias da informação e temáticas contemporâneas que atraiam o interesse dos jovens. Moral da história: o aluno do século XXI frequenta uma escola modelo século XIX com métodos do início do século XX. Não vai funcionar nunca. E é isso (e outras várias coisas que precisam mudar de verdade).

É hora de dar um basta nesse pacto de silêncio, indiferença, ignorância, mediocridade contra o qual tanto se debateu – debalde – Darcy Ribeiro. O que a Câmara dos Deputados aprovou esta semana – de afogadilho, apesar do tempo de tramitação – é insatisfatório por sua incompletude, exigirá das escolas e dos docentes despreparados uma velocidade de adoção das “novidades” incompatíveis, por irreais, quando se trata de Brasil.

Essa pseudo “revisão” (sic) desconsidera haver um longo caminho entre o que decide Brasília e o que ocorre na ponta, nas escolas. O ensino profissionalizante deveria ser implementado no mínimo em 5 anos. Tempo para alocar recursos, treinar docentes e preparar a escola para cursos de boa qualidade. Está se jogando pela janela uma oportunidade real de melhorar concretamente o ensino público no Brasil focando na profissionalização dos jovens.

Essa “revisão” como está fará o coitado do aluno aturar 3 mil horas de aulas, 80% destinadas à parte comum (a que está levando a 95% deles a sair do ensino médio sem saber as 4 operações da matemática). Os 20% restantes serão ocupados pelos chamados itinerários formativos: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza (mais do mesmo com outra roupagem) e o pouco que sobrar se destinará ao que deveria ser o principal: o ensino técnico-profissional.

Torço para que o Senado, a casa revisora, mude o rumo dessa conversa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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