colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Uma colcha de retalhos

26/05/2024 - 06:00
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Um retrato conciso da verdadeira face da Braskem pode ser medido pela diferença entre o que ela fala e a realidade dos fatos. Um exemplo? A revista Forbes realizou pesquisa para identificar as melhores empresas do mundo onde se trabalhar. Vejamos o que a Braskem fala disso: “A Braskem foi eleita uma das melhores empresas no mundo para se trabalhar pelo Ranking Forbes”. A real: ela foi classificada no 586º lugar entre 750 empresas de 50 países pesquisados. Precisa de mais? Nem seus empregados engolem mais a cultura da empresa...

Mas vamos tratar hoje de outras coisas. Para que o leigo tome conhecimento do quanto a Braskem lucrou com a extração da maior riqueza mineral de Alagoas ao longo de 16 anos (entre 2002 até 2018 quando explodiu o megadesastre), o relatório elaborado pelos consultores do Senado para a CPI nos traz informações interessantes.

Em 2017, o custo da extração do sal-gema pela Braskem em Maceió era de 3,73 dólares/ton. enquanto o seu preço no mercado internacional era de 60 dólares/ton. Está lá no relatório: “O valor de tonelada do sal considerado pela Braskem até 2017 corresponde, em média, a 5% do valor de referência do sal-gema como commodity internacional, e dá dimensão da lucratividade da empresa na operação de Maceió”.

Na verdade, a empresa ganhava muito mais, uma vez que basicamente a totalidade do sal-gema extraído em Maceió era utilizado nas próprias indústrias do grupo para a produção de produtos finais de muito maior valor agregado. Essa verticalização passou a representar, ao longo do tempo, ganhos significativos e redução de riscos para o negócio.

Em resumo: a Braskem obteve ao longo desses anos o que todos os empresários gostariam de obter: alta competitividade no mercado internacional para a sua matéria-prima (sal-gema) e para seus demais produtos manufaturados fora de Alagoas (uma vez que aqui o grupo Novonor produz basicamente soda e PVC).

E Alagoas? Nada levou, exceto o prejuízo do megadesastre. A empresa quase nada paga de ICMS em Alagoas (0,46% da receita total do estado), gera 0,14% dos empregos formais em Alagoas, continua – mesmo após o megadesastre – recebendo incentivos no estado e se beneficiou nos últimos 20 anos de quase 900 milhões de reais de incentivos fiscais federais (ela argumenta que foi menos. Ficamos com o dado oficial da Controladoria Geral da União).

O que Alagoas “ganhou” foi uma das maiores debacles econômico-sociais do planeta nos 20 anos de “reinado” da Braskem. A renda per capita familiar média do alagoano que era quase nada, sofreu uma queda brutal de 66% entre 2002 e 2020, e o PIB real alagoano no mesmo período teve uma redução de 46%! Um horror!

Neste caso, não se pode inculpar apenas a empresa (exceto por alimentar com dados fajutos a narrativa de que seria o carro chefe da economia e do desenvolvimento de Alagoas, quando na verdade ela representa apenas 0,4% do PIB alagoano; todo o complexo da Química e do Plástico soma 0,8% do nosso PIB). Agora, há que se buscar explicações das lideranças políticas de então do porquê da derrocada gigantesca da nossa economia no período.

Agora, não resta dúvida: a empresa que é quase um zero à esquerda em termos de geração do PIB, ainda assim é defendida com unhas, dentes e a caneta por uma malta de maus alagoanos que precisam ser desmascarados. Alô Polícia Federal! Sigam o dinheiro dos acordos...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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