colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Quem dará o primeiro passo?

30/06/2024 - 07:59
Atualização: 30/06/2024 - 15:19

ACESSIBILIDADE


Seis anos após o mega desastre socioambiental que a Braskem provocou em Maceió por conta da mineração desastrosa em área inadequada do ponto de vista geológico e mais ainda do ponto de vista social haja vista ocorrer em área densamente povoada da Capital do estado de Alagoas, a empresa incompreensivelmente – tendo em vista que isso facilitaria enormemente o que é hoje a sua prioridade: a sua venda - continua “empurrando de barriga” uma solução definitiva global para o caso. Um retardamento não apenas prejudicial para os afetados, mas também e – até mais – aos negócios estratégicos da NOVONOR, a holding controladora da petroquímica.

Pelas razões amplamente conhecidas pelo mercado, o grupo NOVONOR – ferido gravemente pela operação Lava Jato - não anda bem das pernas financeiramente falando. Na verdade, a controladora NOVONOR está há algum tempo em recuperação judicial. Para “fazer caixa” o grupo já vendeu a ATVOS (biocombustíveis) e a Ocyan (Óleo e gás) e tenta há algum tempo se desfazer da Braskem e seu passivo gigante junto aos bancos e em Alagoas.

Recentissimamente, o grupo viu-se obrigado a pedir a recuperação judicial da OEC - (Odebrecht Engenharia e Construção), o seu braço de engenharia e construções (que ainda estava de fora de pedido de recuperação judicial). A OEC, diga-se, é considerada pelo grupo a atual “joia da coroa” (já foi a Braskem) e eixo mais importante para a manutenção e expansão dos negócios do grupo. O pedido de RJ alcança o montante de 25 bilhões de reais de dívidas financeiras, operacionais e de antigas operações do grupo.

Segundo a Folha/UOL “A OEC registrou, no ano passado, um prejuízo consolidado de R$ 741,4 milhões, segundo relatório de demonstrações financeiras auditado pela BDO. No documento, há o apontamento de "incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional" porque seu passivo circulante estava maior do que seu patrimônio”.

A Braskem por sua vez teve um prejuízo da ordem de 4,5 bilhões de reais em 2023 e segundo expectativas do mercado poderá ver o resultado se repetir em 2024 em razão da crise que vem passando o mercado de resinas termoplásticas, o principal da empresa. Para que se tenha uma ideia mais clara do “enrosco” da empresa, os chineses que nos últimos cinco anos construíram um parque petroquímico maior que o da Europa e o da Ásia somados e voltado para abastecer o seu mercado interno (que está em crise) tem colocado o seu produto no mercado a preços muito menores que os da petroquímica brasileira. Especialistas indicam que este mercado levará algum tempo para retomar a sua normalidade.

Como se observa - ainda que superficialmente - o grupo NOVONOR controlador da Braskem cujas ações estão vinculadas a garantias de empréstimos vencidos e não pagos a bancos brasileiros (em valores congelados na faixa de 15 bilhões de reais) e, com um passivo um pouco superior a esses valores em Alagoas, dificilmente – dado o quadro aqui desenhado – teria condições de arcar com as duas mega dívidas.

A Braskem por sua vez, procura há longo tempo negociar os 15 bi de reais devidos aos bancos com um comprador desconsiderando o passivo gigante que tem em Alagoas. Que teria que ser resolvido por quem adquirisse a empresa. Algo que nos parece sonhático quando se sabe que nenhum grupo privado assumiria um “imbróglio” dessa magnitude.

O quadro então é o seguinte. A NOVONOR não tem como resolver o passivo da Braskem em Alagoas. A Braskem dado os números aqui mostrados, também não. Futuros compradores dificilmente fecham negócio com um passivo em aberto do tamanho do da Braskem em Alagoas, sem antes ter um acordo que lhes assegure ficar de fora do problema.

Então como fica? Os credores alagoanos, as 140 mil pessoas físicas e jurídicas afetadas de forma direta pelo desastre, o governo de Alagoas e as oito prefeituras da região metropolitana de Maceió impactadas pelo desastre querem receber o que lhes é devido.

O histórico recente de negociações da Braskem com a prefeitura de Maceió, a iniciativa quase criminosa de tentar enganar os moradores dos Flexais com 25 mil reais, os “apoios” institucionais que a empresa vem tendo quando se trata de brecar os interesses dos afetados, são alguns dos óbices importantes para se avançar em direção a um entendimento a respeito do seu passivo em Alagoas. É preciso mudar o rumo dessa conversa.

Como diz o ditado “bons navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades”. Bom senso, razoabilidade, competência técnica e visão estratégica de longo prazo nessa hora são fundamentais para – olhando por cima da tempestade - enxergar rotas, sendas, roteiros e caminhos a serem trilhados. E eles existem. Não são sonhos, diga-se. Estão à vista de quem quer enxergar de verdade. Mas é preciso romper com os paradigmas que conduziram o Caso Braskem para onde se encontra hoje. Todos.

O roteiro – surpreendente, de alta objetividade, efetividade e concretude – está pronto. Foi desenhado para materializar proposta inovadora e disruptiva que não seria refutada pelos afetados e que é viável e de alto interesse para o grupo NOVONOR, Braskem, futuros compradores, Petrobrás, governo brasileiro e demais stackeholders envolvidos no imbróglio.

Não custa lembrar uma frase do ex-ministro Delfim Netto: Se o sujeito está com o rabo no forno e a cabeça no freezer da geladeira, não se pode dizer que ele está com uma ótima temperatura média. Esta é a situação atual.

O que é melhor? O quente? O gelado? Ou uma boa brisa fresca?

Quem dará o primeiro passo?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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