colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

De novo a Braskem sai incólume da campanha

06/10/2024 - 06:00

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Nas últimas quatro décadas e meia, participei como consultor técnico ativa e diretamente na construção de candidaturas majoritárias em Alagoas, Distrito Federal, Goiás e para o governo brasileiro, com um ranking de vitórias que muito me alegram: presidente da República eleito, duas candidaturas para governador sendo um eleito, quatro candidaturas para prefeitos de capital e outras cidades, sendo três eleitos, e na eleição de dois vereadores. De volta à minha terra, pela primeira vez em muitos anos, fiquei de fora de uma eleição. Nossos garotos-candidatos abriram mão da expertise técnica e política de muita gente que poderia dar a esta não-campanha outro direcionamento.

Nos últimos quatro anos, tenho me dedicado com afinco na busca de soluções para o caso Braskem, até hoje em aberto e não resolvido, apesar das campanhas insidiosas da empresa dizendo o contrário e do silêncio sepulcral das autoridades. Foram dezenas de palestras, um livro que se tornou best-seller global sobre o tema, levantamento pioneiro da dívida da Braskem com credores da empresa em Alagoas (somente realizada cinco anos após o desastre e ingentes esforços da nossa parte), proposta negocial entre as partes (até hoje sem resposta), centenas de artigos no EXTRA e no Extra Online sobre o megadesastre. E o que vemos sobre o principal assunto – em termos ambientais, econômicos, sociais, psicossociais, habitacionais, de mobilidade, para o patrimônio público e o privado de Maceió – na presente campanha dos dois principais candidatos? O tema é abordado superficialmente, com propostas genéricas e carentes de dados concretos pelo candidato governista e de forma acintosamente mentirosa pelo candidato à frente das pesquisas. E segue.

Em Alagoas, temos profissionais com o mais alto nível técnico, a nível de mundo, em relação ao assunto megadesastre provocado pela Braskem. O inquestionável ambientalista e laureado, Prof. Dr. José Geraldo Marques, ou o Prof. Ms. Abel Galindo, único engenheiro em Alagoas que enfrentou a Braskem desde o início do problema, com opiniões e denúncias sobre os erros técnicos que foram, estavam e continuaram a ocorrer na área da mineração pela Braskem. Outro reconhecido e laureado profissional, criador do ensaio *Manifesto Sururu*, que propõe um olhar identitário sobre Alagoas e seu povo, e um estudioso reconhecido dos impactos sociológicos nos afetados e na cidade de Maceió, é o Prof. Dr. Edson Bezerra.

A arquiteta e urbanista Isadora Padilha, que desde os primórdios do desastre é figura presente, ativa, arguta – e a rigor a única profissional da sua área a apresentar, de forma a nos proporcionar, pensar além dos enfrentamentos Braskem x afetados e Maceió com um conjunto de ideias e soluções construtivas que, aproveitadas, sem dúvida alguma farão Maceió dar um salto quântico qualitativo para um futuro smart e sustentável, com enorme geração de riquezas para todos.

Pois bem, até onde me consta, nenhum dos especialistas citados – aos quais, modestamente, me incluo – foi procurado pelos candidatos majoritários para ajudar a encaminhar as soluções que eles já têm prontas para a parte destruída da cidade e para a área do Pontal da Barra, ora ocupada pela Braskem. E o incrível disso tudo é que são propostas no estilo ganha-ganha, mas...

Pelo andar da carruagem, se o atual prefeito encaminhar sua vitória neste 6 de outubro, temos, a priori, que entender – por suas palavras e desmentidos *fakes* sobre o Caso Braskem – que ele seguirá o diapasão atual de obras instagramáveis ou socialmente discutíveis, todas sendo questionadas, algumas tecnicamente, outras por sobrepreço – e grande parte não prioritárias ao se cotejar com os graves problemas enfrentados por 98% das pessoas de Maceió.

Vamos continuar com a luta. Vamos lançar, no mês de outubro, a segunda edição (do esgotado) do livro *Rasgando a Cortina de Silêncios*. Deixamos para fazê-lo pós-eleições para evitar o desvirtuamento das propostas técnico-críticas nele contidas, voltadas à solução do problema. Se forem lidas pelas autoridades e empresa, ajudarão a encontrar saídas para o megaproblema. Pena que não tenham sido discutidas seriamente nesta campanha. Eram públicas e disponíveis.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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