colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O crime compensa

20/10/2024 - 06:00
Atualização: 20/10/2024 - 08:28

ACESSIBILIDADE


O Brasil é conhecido pelo “jeitinho brasileiro” de tornar o errado certo e o certo tortuoso para que se venda dificuldades e colha-se facilidades. É um país onde a corrupção campeia de A a Z em todos os seus estamentos, sejam eles sociais, empresariais, políticos, judiciais, militares, religiosos. Nesta terra de Macunaímas, difícil é encontrar gente limpa, decente.

A origem desse quadro terrível alguns por aí culpam a nossa herança atávica portuguesa que povoou essa Nação nos seus primórdios com o pior da ralé lusa: bandidos, assaltantes, criminosos, estupradores. Todo tipo de gente assemelhada que por aqui aportou e fez morada. Seríamos herdeiros desse DNA? Outros acusam o modelo escravagista multissecular que até hoje mantém suas piores características: a escravidão (agora disfarçada num modelo de emprego onde mais de 90% dos trabalhadores ganham o insuficiente para sobreviver), a discriminação (hoje disfarçada por conta das pressões que negros e minorias vêm fazendo), o coronelismo, consubstanciado no modelo “capitania hereditária” da política nacional, onde o poder é mantido centenariamente nas mãos das mesmas famílias, e segue.

Analistas veem como consequência dessa corrupção a violência absurda das polícias contra os “escravos” modernos e os moradores das periferias de nossas cidades, regularmente mortos ou acossados, ou obrigados a viver em “guetos” dominados pelo tráfico ou milícias que tomaram conta de grande parte da periferia das grandes cidades e cidades inteiras dos interiores do Brasil.

Estudos realizados por economistas proeminentes demonstram perdas significativamente altas do PIB nas nações infestadas pelo quarteto crime organizado, jogo, tráfico e corrupção. São números que podem chegar a até 20% do PIB nacional “perdido” para o crime. Para que se tenha ideia da grandeza desse número, o PIB brasileiro atual é de R$ 7,5 trilhões. Nesse caso, a turma do quarteto do crime está levando para casa anualmente até cerca de R$ 1,5 trilhão!

Vejamos essa aberração de outro ângulo: os R$ 1,5 trilhão roubados anualmente (20% do PIB) é maior 11 vezes o que o governo brasileiro reservou para investimentos no Orçamento da União de 2024: a miséria de 1,8% do PIB. Ou por esse ângulo: em 10 anos, o Brasil precisa aplicar em infraestrutura para tornar esse país minimamente apto no rumo ao desenvolvimento, cerca de R$ 10 trilhões. No mesmo período (e sem correção dos valores), o quarteto de ladrões vai faturar R$ 15 trilhões, 50% a mais do que o Brasil precisa para crescer.

As pessoas perguntam por que disso, por que o jogo foi aprovado no Brasil quando todos sabem dos seus malefícios e os criminosos que estão por detrás dele (por exemplo, recentemente prenderam uma “influencer” em PE acusada de ligações com o jogo e quadrilhas de drogas); por que o crime organizado avança célere e nada nem ninguém o contém? Ou o tráfico (de drogas, de mulheres, de órgãos, de remédios e outros mais) campeia à vontade, quase sem restrições, a ponto de seus “representantes” já se fazerem presentes em alguns legislativos e terem alguns governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores na folha de pagamento, segundo consta? Por que a corrupção explodiu nos executivos, legislativos e judiciários de todo o país?

Conta tanta “gente boa” envolvida, a coisa fica difícil de acontecer. Mas para que eles não contra-argumentem criando empecilhos, todos sabemos que é só seguir o dinheiro... Mas cadê os órgãos de fiscalização, a CGU, o TCU, o Cade, a CVM, Ministério Público, a PF e outros que se omitem, ou levam a coisa na mansidão? Um caso típico aqui das Alagoas: o interminável processo da Braskem que destruiu parte da nossa capital e até hoje sequer foi indiciada. Neste país parece que a regra é: o crime compensa.

E o povo, ó!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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