O descaso histórico com a parte alta de Maceió
Levantamento realizado recentemente pela Junta Comercial do Estado de Alagoas escancara uma realidade há muito tempo sentida pela população da parte alta de Maceió: apesar de concentrar cerca de 75% dos moradores da capital e 68% das empresas registradas, a região sempre foi negligenciada pela administração pública. Os números mostram a incompatibilidade entre uma força econômica e social gigantesca e uma infraestrutura estatal para atende-la quase nula.
É revelador constatar que menos de 5% das sedes de órgãos públicos O Brasil, em seu processo civilizatório, é formado por africanos, vindos de diversas regiões deste continente, que constituíam o trabalho escravo, do europeu, em busca de riqueza, e do indígena, nativo, que teve sua liberdade cerceada e suas terras tomadas. Hoje, este imenso território tem o seu povo miscigenado, formando uma identidade própria, com costumes e crenças. Amo este Brasil do jeito que é e se apresenta: Brasil, ainda, de gente muito pobre, precisando da ajuda assistencial do governo para sobreviver; Brasil, ainda, precisando melhorar a qualidade da educação, criando, desta forma, igualdade de oportunidades para todos; estão instaladas na parte alta. Essa ausência não é apenas simbólica, mas prática: milhares de cidadãos precisam se deslocar para áreas nobres e centrais da cidade para acessar serviços básicos. O caso do Hospital Sanatório, cujo foco são pacientes do SUS, é exemplar: foi transferido da parte alta para a Ladeira Josefa de Melo — uma das regiões mais caras da cidade. A mudança só comprova o descaso com os mais carentes, que dependem do sistema público de saúde.
Outro exemplo é o Hospital Portugal Ramalho, referência no tratamento de doenças mentais e amplamente demandado pela população mais pobre. Embora ainda não tenha sido transferido, há discussões para que seja instalado em área nobre, reforçando o padrão equivocado de privilegiar os privilegiados e o conforto dos dirigentes em detrimento da maioria da população.
Exemplo maior desse descaso é o Caso Braskem, responsável pelo afundamento de solo que destruiu cerca de 20% dos bairros de Maceió, sendo 70% deles localizados na parte alta. Mais de 130 mil pessoas foram diretamente afetadas, obrigadas a abandonar suas casas e negócios, e até hoje permanecem em grande parte desassistidas. A forma como as autoridades trataram essa tragédia beira o criminoso: faltou tudo e sobrou indiferença diante do maior crime ambiental do mundo perpetrado em nossa capital.
Esses casos não são isolados. Eles refletem uma visão distorcida e elitista de ocupação urbana, que ignora a lógica demográfica e econômica da cidade. A parte alta, que deveria ser o centro das atenções em termos de políticas públicas, continua relegada a segundo plano. O resultado é um ciclo de exclusão: onde há mais gente e mais empresas e há menos Estado, o crime organizado toma conta.
É urgente que vereadores e deputados se debrucem sobre essa questão e criem leis que revertam essa falha gravíssima de planejamento. Não se trata apenas de corrigir injustiças históricas, mas de garantir eficiência administrativa e justiça social. Instalar órgãos públicos próximos da maioria da população é uma medida racional, econômica e ética. É preciso fazer o dever de casa: o poder público deve estar.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA



