colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Não da mais para postergar

07/12/2025 - 10:46
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A questão das perdas do Nordeste nas relações comerciais com as demais regiões brasileiras é tema central no debate sobre desigualdades regionais no país. Apesar de uma visão hegemônica (e equivocada) que retrata a região como dependente do Sul e Sudeste, os números mostram o oposto. Os mecanismos que levam a termos de trocas desiguais são, estes sim, a causa real desequilíbrio e do prejuízo regional.

O mesmo conceito de deterioração dos termos de troca desenvolvido por Raul Prebisch e Hans Singer para relações centro-periferia no comércio internacional, aplica-se às relações inter-regionais brasileiras. No caso nordestino, observa-se um padrão persistente: a região exporta produtos de menor valor agregado e importa manufaturados e serviços sofisticados das regiões Sul e Sudeste.

A relação de trocas pode ser expressa pela razão entre os índices de preços das exportações e importações regionais. Quando esta relação é decrescente ao longo do tempo, configura-se uma transferência líquida de renda da região periférica para o centro econômico. As evidências apresentadas demonstram inequivocamente que o Nordeste sofre transferências líquidas de renda da ordem de 11-13% do PIB regional anualmente em detrimento das regiões desenvolvidas do país.

Essas transferências, acumuladas ao longo de décadas, somam centenas de bilhões de reais e explicam parte significativa da persistência das desigualdades do Nordeste em relação ao Sul e Sudeste, notadamente. A magnitude desses fluxos negativos é gigantesca (R$ 115-134 bilhões/ano). Superior ao total de políticas compensatórias existentes (FNE e incentivos fiscais: ~ R$ 70 bilhões/ano). Trata-se de drenagem líquida entre 45-63 bilhões de reais/ano, contribuindo de forma direta para a perpetuação do subdesenvolvimento de nossa região.

Superar esse padrão requer não apenas ampliar recursos de políticas regionais, mas fundamentalmente transformar a estrutura produtiva regional, reduzir a especialização em produtos de baixo valor agregado, desenvolver capacidade tecnológica endógena, adensar cadeias produtivas, atacar frontalmente o gap de infraestrutura e do capital humano e o brutal mau uso dos recursos públicos.

Os custos dessa transformação estão precificados: R$ 850 bilhões em 20 anos. 60% do que o Nordeste transferirá para o resto do país: R$ 1,4 trilhão. A relação custo-benefício de 3/1 demonstra que investir na região não é só questão de justiça social e coesão nacional, mas a melhor decisão para o país.

Essas evidências robustas e as experiências internacionais bem-sucedidas indicam ser possível em uma geração reduzir o gap elevar o Nordeste ao patamar de desenvolvido. Mas é preciso uma concertação inédita de esforços das forças vivas da região.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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