colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Erin Brockovich e a Braskem

08/12/2024 - 06:00

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Um dos filmes mais assistidos em todo o mundo, inclusive aqui em Alagoas (e que continua a fazer enorme sucesso, agora, no streaming), Erin Brockovich relata a saga de uma americana que descobriu que a empresa química de sua cidade vinha há anos envenenando a população por conta do derramamento intencional de cromo hexavalente no lençol freático, contaminando a água consumida nas casas. Foi uma luta vitoriosa, apesar da anomia e da prevaricação das autoridades locais que se “fingiram de mortas” para, em seguida, com o aumento do clamor da população, prevaricarem em defesa da empresa.

A similitude com o caso Braskem em Maceió é chocante, apesar do crime perpetrado ter sido outro. O desenlace é que teve um abissal diferencial. Lá, a justiça julgou o pleito da cidadã e pespegou na empresa o maior valor já pago em uma ação direta na história dos Estados Unidos, além de obrigá-la a limpar a área e indenizar (corretamente) os moradores.

Aqui, a conversa é outra. Os poderes locais continuam prevaricando de suas responsabilidades. Sequer iniciaram um processo-crime contra a Braskem pelo que ela perpetrou em nossa cidade. Pior: permitiram a “nomeação” irregular da empresa como “prefeita” da área que ela destruiu, um acordo irregular em que ela pode tudo e o resto, diga-se, as vítimas de sua irresponsabilidade, as pessoas e a cidade de Maceió, nada!

Braskem e a Prefeitura também celebraram o acordo lesa-Maceió sem autorização da Câmara de Vereadores, que não deu um pio. Em qualquer lugar do mundo, com uma justiça atuante, seria nulo de pleno direito, mas aqui... As aberrações do “acordo” vão do ínfimo valor (menos de 20% da dívida da empresa para com a capital), da incrível “doação” de partes de Maceió à Braskem (ruas, avenidas, praças, alamedas, vilas... da área destruída), da aquisição controversa de um hospital de alta complexidade e, de nada para os afetados, as vítimas efetivas do desastre! A eles sobrou uma grande banana dada pelos acordantes.

Ainda assim, a população de Maceió reelegeu o prefeito com uma consagradora votação que quase alcança 80% dos votos dos eleitores da cidade. Uma aprovação tácita dada para que o desrespeito sequencial à lei e contra a cidade continue. Os ratos gordos da política já leram o claro sinal: estão escancaradas as comportas para que salafrários de todos os naipes, encastelados em cargos públicos, continuem a pilhar a cidade, os cofres públicos, suas riquezas naturais destruídas sistematicamente por criminosos do colarinho branco em nome do “progresso”. Deles.

Não é à toa que esse estado continua sendo o segundo mais atrasado do Brasil e Maceió, a terceira pior capital para se viver (segundo o Índice de Progresso Social), e também a terceira pior qualidade de vida do país entre as capitais (mapa da realidade social dos municípios do estudo IPS Brasil) e a pior do Nordeste.

Não há políticos nessa terra para enfrentar essas aberrações, denunciá-las de forma sistemática e articular uma frente para começar a mudar essa tragédia que faz desse estado o penúltimo colocado no ranking de pobreza dos estados brasileiros?

Se Maceió é massa, Alagoas é o quê?!

Santo Deus!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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