Sem planejamento, não rola
É certo que, exceto alguns raros e diminutos bolsões em universidades de ponta, inexistem movimentações na direção de se pensar o Brasil. Na verdade, esse se tornou um tema “fora de moda”, especialmente nos últimos 22 anos dos desgovernos petistas e bolsonarista. A “moda” agora, bem ao feitio dessa gente, é partidarizar e ideologizar discussões rasteiras e superficiais sobre qualquer tema, importante ou não. Bem ao gosto dos dois chefes de bandos que infelicitaram e continuam infelicitando este país com suas diatribes de rasa acurácia mental, semianalfabetos que são.
Focar em debates sobre questões de suma importância para o futuro do Brasil? Nem pensar. Debater seriamente a economia, a lide política, as questões sociais, identitárias, as reformas estruturais tão necessárias, destrinchar via estudos a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, planejar as questões ambientais e a mudança de clima, articular programas efetivos de combate à violência e à corrupção... Perdemos o fio da meada nessa área.
A ausência de lideranças qualificadas no governo, no Legislativo, no Judiciário, na classe política e nos setores industriais, agrícolas e de serviços, dispostas a contribuir para pensar o Brasil em primeiro lugar — suas interrelações e conexões globais, e as associações às grandes transformações pelas quais passa o mundo — tornou-se uma utopia nesse período conturbado da nossa história.
Não se avança nas discussões de temas relevantes para os dias atuais, como os impactos das mudanças na economia global, a ordem internacional, a geopolítica, o meio ambiente, a inovação tecnológica acelerada com inteligência artificial amplificando desafios na área civil e militar, a geoeconomia e a segurança nacional. Nada disso, nem tantos outros temas vitais para recolocar o Brasil na rota sustentável do desenvolvimento, é tratado com a seriedade e profundidade que merecem.
Resultado: ao não medirmos o impacto dessas e de outras questões no futuro da Nação, ficamos sem saber quais medidas estratégicas tomar para preparar o país para responder a esses desafios. Não estão disponíveis inteligências em planejamento capazes de manusear, de forma adequada, as ferramentas necessárias para enfrentar os modernos desafios à nossa soberania — tema tão atual com a chegada de Trump à presidência dos Estados Unidos.
O Brasil virou um deserto de planejamento há muito tempo, desde o advento da redemocratização. Não é à toa que patinamos durante todos esses anos sem rumo ou prumo. Sem planejamento estruturado de alto nível, não é possível elaborar projetos de qualidade. Este país terá que remar tudo de novo e formar uma nova elite de planejadores, sob pena de o voo de galinha continuar indefinidamente.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA